G27_Este é um trabalho sobre os x cinemas de rua do centro de São Paulo

“Talvez a imobilidade das coisas ao nosso redor lhes seja imposta pela nossa certeza de que tais coisas são elas mesmas e não outras, pela imobilidade de nosso pensamento em relação a elas.” [Marcel Proust, Em busca do tempo perdido, 1913.]

Esse trabalho procura entender o estado de abandono em que Cinelândia se encontra nos dias de hoje levando em consideração o fator histórico e as suas determinantes, tendo como intenção final uma proposta de uso hoje.

Existem dois motivos determinantes para o declínio dos cinemas de rua dos anos 50 no centro novo de São Paulo, os dois intimamente ligados com a lógica individualista do neoliberalismo, onde as classes dominantes se confinam e a coletividade é cada vez mais rara. David Harvey, em “O Direito à Cidade”, explica como o urbanismo se relaciona com essas práticas:

Desde seus primórdios, as cidades surgiram nos lugares onde existe produção excedente, aquela que vai além das necessidades de subsistência de uma população. A urbanização, portanto, sempre foi um fenômeno de classe, uma vez que o controle sobre o uso dessa sobreprodução sempre ficou tipicamente na mão de poucos [pense, por exemplo, num senhor feudal]. Sob o capitalismo, emergiu uma conexão íntima entre o desenvolvimento do sistema e a urbanização.”[David Harvey, O Direito à Cidade, 2013]

O primeiro motivo, em uma escala mais global, o cinema naturalmente passa a ser menos atrativo para as pessoas. O gráfico de público anual do cinema em São Paulo identifica que a partir dos anos 60 observa-se um declínio de frequentadores. Vários autores associam esse movimento com a popularização da TV, onde salas de 3 mil pessoas (como as salas da Cinelândia) não fazem mais sentido, já que a TV é um instrumento “facilitador” dentro de casa.

O segundo motivo, já se tratando em uma escala mais local e urbanística, no movimento da constante ressignificação da cidade de São Paulo, o centro novo como um todo, a partir dos anos 60, passa a não ser interesse da classe dominante e do mercado imobiliário.

ANÁLISE E REFLEXÕES

9|15 dos cinemas analisados estão em USO
2| 9 dos cinemas em USO  estão TOMBADOS
6|15 dos cinemas analisados estão VAZIOS
6|6 dos cinemas VAZIOS são TOMBADOS

_A maioria dos edifícios tombados estão vazios ou seja,  de alguma forma o tombamento inibe o uso:  

Muito importante: 
O tombamento não pode ser entendido como algo como algo ruim: apesar de um modo geral  ser interpretado de um modo adverso pois subentende-se que o edifício deve ficar congelado. Na verdade sua intenção é justamente o contrário, de manutenção da história e identidade da cidade.  

_de alguma forma o patrimônio material em processo de ruínas permitiu com que vários problemas sociais da cidade como um todo fossem identificados: 

_ a readaptação de uso em patrimônio deve estar de acordo com o que funciona hoje na cidade e não mais com o que funcionava no passado:

DIRETRIZES DE USO

_ o uso do edifício é diretamente relacionado com a preservação do patrimônio material ou seja , a manutenção da sociabilidade do edifício é fundamental para o tombamento; 

O patrimônio material não deve ser algo que inibe soluções de uso pois acarretaria na sua própria dissolução.

_ Gentrificação é um processo que pode ou não acontecer na cidade em virtude de qualquer tipo de melhoramento de qualidade de vida que esta diretamente ligado a regulação de limites (leis, multas , regras) por parte do estado.

As proposições de uso terão um carácter mais abrangentes em relação as dinâmicas do centro, que justamente rebate com a ideia de “higienização” do centro;

_Cultura é diversidade;

Os edifícios de cinema tem mais vocação para certos tipos de programa, como a retomada de preservação cultural, porém, não como o uso original de cinema pois esse tipo de cultura não se enquadra mais como um sistema da cidade e sim levando em conta a resistência da diversidade de cultura que existe hoje no centro;

Conclusão

O processo de metropolização pelo qual passou São Paulo na primeira metade do século XX encontrou no cinema uma forma nova de entretenimento, sociabilidade e difusão do modo de vida moderno. Os edifícios nos quais foram implantados os cinemas e, principalmente, o estado em que se encontram hoje, recontam parte da história da cidade e trazem uma reflexão sobre o passado e sobre como eles podem se adaptar às novas realidades do presente. Tendo isso em vista, o trabalho procura entender os edifícios vazios e hoje sem uso do centro novo, especificamente, aqueles que fizeram parte da Cinelândia paulistana, levando em consideração o fator histórico e as suas determinantes. Desse processo investigativo surgem propostas de intervenções projetuais como alternativas que devolvam esses espaços às pessoas.

Há dois motivos determinantes para alguns edifícios de cinemas se encontrarem vazios no centro novo de São Paulo hoje, ambos ligados à lógica individualista do neoliberalismo, em que as classes dominantes se confinam e a coletividade é cada vez mais rara. O primeiro motivo, um fenômeno global, relaciona-se à ascensão da televisão e de meios de streaming (netflix, youtube, vimeo, etc), e o segundo, associa-se à saída da elite do centro novo. Esses motivos explicitam um dos paradoxos da arquitetura moderna com diretrizes monumentais: grandes edifícios que permitem aglomerar um grande coletivo de pessoas, porém feitos para uma elite, cujo interesse pela exclusividade resulta em exclusões e individualismo.

O trabalho compreendeu 20 cinemas, dos quais 5 foram completamente demolidos, 9 estão em uso e 6 estão fechados e vazios. Ou seja, os objetos de estudo restringem-se aos aos seguintes cinemas: Cine Marrocos, Cine Ipiranga, Cine Metrópole, Cine Copan, Cine Paissandu e Cine Art Palácio, sendo os 6 tombados. Para a realização das propostas interventivas, foram escolhidos o Cine Copan e o Cine Ipiranga, ambos possuem relações distintas com a rua, permitindo diferentes formas de interação. O objetivo principal é a articulação desses edifícios com a cidade, enfatizando a sociabilidade nos locais. As modificações serão feitas de modo a convidar pessoas a permanecerem nesses locais, e consequentemente, permitir o seu uso e  sua preservação.