ETAPA 1: QUESTÃO. LUGAR. CONTEXTO.
Dentro da proposta de OCUPA SP, o grupo procura abordar a temática do déficit habitacional a partir da perspectiva das pessoas em situação de rua.
A conceituação da questão se deve às diferenças da composição da população participante dos movimentos de moradia em relação à grande heterogeneidade da população em situação de rua nas grandes cidades, como em São Paulo.
A temática é recente no plano do direito nacional, tendo sua primeira diretriz publicada em 2009. A partir de então, tem-se realizado diversas pesquisas acerca do perfil dessa população. No censo mais recente realizado pelo município, em 2015, foi diagnosticada a tendência de espalhamento dessa população, muito motivada por recentes manobras de valorização imobiliária na região central, principal concentração de pessoas em situação de rua.
Como método de trabalho, propõe-se uma pesquisa inicial na região central de São Paulo composta por entrevista e observação, com objetivo de traçar a rotina dessa população e o que a faz ser alterada dentro de certos recortes temporais: dia e noite; dias úteis e finais de semana; grandes eventos de rua; estações do ano. Também é importante o levantamento das materialidades e da localização dos denominados “pontos” (locais de concentração e pernoite), e como essa formalização está relacionada com as regras de convivência internas ao grupo.
ETAPA 2: ESTRATÉGIA, LINGUAGEM, LEVANTAMENTO, PESQUISA.
Nessa etapa, o trabalho encaminhou-se ao campo definido no centro da cidade de São Paulo pela área compreendida entre a Praça da República, a Praça Dom José Gaspar, o Teatro Municipal e o Largo do Paissandú. A escolha desse perímetro de pesquisa se deu por serem importantes espaços públicos que abrigam grandes edifícios institucionais e culturais, e que conformam uma urbanidade bastante consolidada, de uso misto, dotada tanto de vias de tráfego intenso como por grandes calçadões exclusivos para pedestres, o que consideramos serem características espaciais muito relevantes ao pesquisar a dinâmica de quem vive a vida na ruas.
Um ponto de extremo impacto para o encaminhamento a ser tomado, a partir de então, pelo grupo foi a presença massiva de carroças de catadores de materiais recicláveis, atraídos pelo comércio de rua concentrado nos calçadões a espera da sucata, ou parados fixos, utilizando seus carrinhos como moradia.
Portanto, a pesquisa volta-se agora para o estudo dos catadores, tanto na escala formal da composição dos seus veículos, quanto para a inserção desse modal na cidade através dos fluxos de coleta e enfrentamentos diários dessa população. O objetivo é retornar com esse estudo para a temática do habitar as ruas de forma propositiva, explorando a espacialidade dos carrinhos como potencial instrumento de trabalho revertido em abrigo.
ETAPA 3: MEIOS E APROFUNDAMENTO
Muitas fugiam ao me ver
Pensando que eu não percebia
Outras pediam pra ler
Os versos que eu escreviaEra papel que eu catava
Para custear o meu viver
E no lixo eu encontrava livros para ler
Quantas coisas eu quiz fazer
Fui tolhida pelo preconceito
Se eu extinguir quero renascer
Num país que predomina o pretoAdeus! Adeus, eu vou morrer!
E deixo esses versos ao meu país
Se é que temos o direito de renascer
Quero um lugar, onde o preto é feliz.
– Carolina Maria de Jesus, em “Antologia pessoal”
cadeia de reciclagem: logística reversa
ETAPA 4: SÍNTESE
A vida urbana implica a inserção do cidadão em complexas cadeias de produção e consumo, na qual a consciência sobre origem e o destino dos bens de consumo se perdem na grande escada da metrópole
Certos fragmentos indicam a proximidade espacial do emaranhado de conexões desse sistema logístico com nossas ações cotidianas, principalmente no tocante à logística reversa: desempenhada sua função-tipo, todas as camadas construídas sobre um produto nas instâncias de necessidade, desejo e utilidade são reduzidas à sua matéria base (orgânicos, plásticos, vidros, metais, papéis) e devem ser retiradas da maneira mais rápida possível do campo de convivência dos cidadãos, quer seja por empresas amparadas por contratos milionários de prestação de serviço, ou mesmo por indivíduos que encontram na atividade de catador uma forma de subsistência de rápido retorno em situações de crise.
A partir de questionamentos acerca da presença massiva de carroceiros no centro da cidade, principalmente nas dinâmicas intrínsecas no objeto carroça e o perfil do indivíduo que exercia aquela atividade, como a sobreposição de funções, inconsistências ergonômicas e estruturais e a inserção no ambiente urbano, o trabalho encaminhou-se para uma pesquisa mais profunda acerca do sistema que engloba essa atividade, pois concluiu-se que a forma do objeto foi moldada de forma espontânea como uma resposta às pressões exercidas de maneira mais estrutural na cidade.
A metodologia de pesquisa para a compreensão do todo utilizando como referência pesquisas oficiais publicadas e registros de encontros intersecretariais revelou a fragilidade do meio através de informações desencontradas ou expostas de maneira rasa e a necessidade de articulação da esfera da gestão de resíduos sólidos urbanos, tanto na prática quando na teoria. Após a conferência, os dados confrontados foram espacializados e expressos utilizando de estratégias visuais gráficas familiares à área de arquitetura e
urbanismo, aspirando futuras contribuições do campo ao assunto.
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