a sobreposição de tempos como formadora de espaços
etapa 4 | objeto síntese
A concepção de tempo é uma construção cultural e difere-se em cada sociedade, inserindo-se em seus conceitos, valores, formas de ver e viver o mundo. Esses modos diferentes de perceber e lidar com o tempo, refletem-se em nossos espaços, nas arquiteturas e cidades.
A consciência histórica do Brasil, assim como a da maioria das sociedades ocidentais com herança europeia, originou-se do tempo judaico-cristão. É o tempo linear e cronológico, que sempre ruma a algum tipo de “progresso”, é uma seta em direção ao futuro.
Neste panorama, o vazio é um desperdício. Seja o vazio espacial, como os espaços residuais da planta “mal aproveitada” de um projeto arquitetônico, ou os vazios urbanos em sua luta por sobrevivência contra a força da especulação imobiliária; seja o vazio temporal, em uma rotina que se espera a mais produtiva possível.
Na tradição japonesa, por outro lado, o vazio assume importância fundamental. O conceito MA, de tempo-espaço, está intrínseco na cultura e nas tradições da sociedade. Esse conceito, ou forma estética, surge, na cultura japonesa, a partir do espaço entre 4 pilares, no qual há a possibilidade de conexão com o divino. Desta forma, podemos entender o MA como o momento-entre, que é também espaço-entre. No MA, espaço e tempo são elementos interdependentes e indissociáveis.
Essa forma estética apresenta o vazio como um momento de possibilidades; o vazio entre cheios é o que dá forma ao todo.
Como objeto de estudo, o grupo se aproximou do Casarão do Chá em Mogi das Cruzes, construído em 1942, pelo construtor japonês Kazuo Hanaoka.
Com o aprofundamento da pesquisa ficou claro que as diferentes formas de pensar e se relacionar com o tempo coexistem e podem ser agentes na formação de um mesmo espaço. Diferentes concepções temporais sobrepõe-se formando o que é, hoje, o Casarão do Chá. A leitura deste panorama não é, portanto, linear, pode traçar diferentes caminhos, misturando as camadas de tempo que formam este espaço.
O objeto-instalação, criado pelo grupo, sintetiza essa leitura ao mesmo tempo que representa simbologias do conceito MA, como a valorização do vazio e da subjetividade.
etapa 3 | síntese das temporalidades
Após um aprofundamento nas pesquisas acerca dos “tempos” do Casarão do Chá, o grupo concluiu que essa leitura não deveria ser linear, e sim permitir liberdade na escolha de qual caminho traçar; ao mesmo tempo que permita o cruzamento de todos as informações em uma rede de sobreposições.
Desta forma, o grupo organizou os produtos (plantas, desenhos, imagens e textos) que contam a história das temporalidades do Casarão, em um objeto cilíndrico, e pendurado. O objeto ao mesmo tempo que cria um ciclo, sem começo ou final, para a leitura, também traz movimento e descontrole, sensações que representam nossa relação com o tempo.
etapa 2 | o tempo do casarão
Após a etapa de pesquisas conceituais sobre formas de ver o tempo, o grupo realizou uma serie de percursos buscando alguma espacialidade que refletisse as questões levantadas até então.
Ao depararmo-nos com uma notícia de possível despejo de uma família do Casarão do Chá em Mogi das Cruzes, nos aproximamos deste local como objeto de estudo.
O Casarão do Chá foi uma fábrica de chá, construída pelo carpinteiro japonês Kazuo Hanaoka, no período em que a indústria de chá do brasil crescia no mercado internacional. A região agrícola de Mogi das Cruzes, foi nesta época destino de muitos imigrantes japoneses que trouxeram o conhecimento de tratamento da planta do chá que fez com que essa produção ganhasse muita importância no local.
Ficou claro que as diferentes formas de pensar e se relacionar com o tempo coexistem e podem ser agentes na formação de um mesmo espaço. Diferentes concepções temporais sobrepõe-se formando o que é, hoje, o Casarão do Chá.
Assim o grupo partiu pra experimentações gráficas que dessem conta de criar um panorama com todos os diferentes “tempos” encontrado no Casarão do Chá, respeitando a melhor forma de representar cada um.
Os tempos do Casarão:
- tempo rural
- tempo do ritual do chá
- tempo da indústria
- tempo dos espaços
- tempo dos materiais
etapa 1 | tempo
Com uma perspectiva de reflexão bastante ampla, este trabalho pretendia inicialmente criar um paralelo entre os modos japonês e brasileiro de compreender as noções de tempo e espaço, resultando no modo de conceber seus espaços arquitetônicos.
O grupo iniciou a pesquisa por meio de análises linguísticas, por considerarmos que a língua é uma expressão cultural tangível, assim como a linguagem arquitetônica.
Apos ter contato com uma gama de percepções temporais e espaciais encontradas em literatura científica ocidental (livro “Os sonhos de Einstein”), o grupo começou a elencar espaços que produzissem quebras nas sensações de tempo dentro do nosso campo de conhecimento como: locais de culto sagrado, museus e galerias, shoppings, dentre outros, compreendendo uma forma ocidental – e capitalista – de tomar o tempo linear e cronologicamente, sempre rumando a algum tipo de progresso, sendo o tempo e espaço dissociáveis e infinitos.
Em contraposição, em nossas pesquisas, tivemos contato com o termo japonês “Ma”, formador tanto do conceito espaço quanto do tempo, sendo então uma compreensão ancestral da origem deste dois conceitos interligados. A palavra “Ma” remete especialmente a um espaco-tempo ausente, sustentado dentro de uma materialidade – é possível usar como exemplo o espaço branco do papel que se mantém em um desenho, ou o intervalo de silêncio em uma música, sendo vazios extremamente importantes para o sustento e valorização da imagem ou do som.
Este conceito, que tem sua origem no espaço tempo arquitetônico resultante do vazio criado entorno de templos e espaços sagrados japoneses, continua a se expressar na arquitetura japonesa.
Conforme encontramos em pesquisas, muitos brasileiros buscaram compreender o conceito e tentaram aplica-lo à construções da arquitetura brasileira, elencando os vazios potenciais de edifícios como masp, mube, minhocão-aberto, fau, dentre outros.
Houveram muitas tentativas vindas do próprio oriente de tentar expressar o conceito para o ocidente, e o grupo vem percebendo a dificuldade de transportá-lo em alguma tradução.
Mas continuamos no interesse de compreendê-lo, com uma chave de pesquisa da memória, mesmo que sem o objetivo final de encontra tradução precisa.
Você precisa fazer login para comentar.