G38 | tempo-espaço no casarão do chá

a sobreposição de tempos como formadora de espaços

etapa 4 | objeto síntese

A concepção de tempo é uma construção cultural e difere-se em cada sociedade, inserindo-se em seus conceitos, valores, formas de ver e viver o mundo. Esses modos diferentes de perceber e lidar com o tempo, refletem-se em nossos espaços, nas arquiteturas e cidades.

A consciência histórica do Brasil, assim como a da maioria das sociedades ocidentais com herança europeia, originou-se do tempo judaico-cristão. É o tempo linear e cronológico, que sempre ruma a algum tipo de “progresso”, é uma seta em direção ao futuro.

Neste panorama, o vazio é um desperdício. Seja o vazio espacial, como os espaços residuais da planta “mal aproveitada” de um projeto arquitetônico, ou os vazios urbanos em sua luta por sobrevivência contra a força da especulação imobiliária; seja o vazio temporal, em uma rotina que se espera a mais produtiva possível.

Na tradição japonesa, por outro lado, o vazio assume importância fundamental. O conceito MA, de tempo-espaço, está intrínseco na cultura e nas tradições da sociedade. Esse conceito, ou forma estética, surge, na cultura japonesa, a partir do espaço entre 4 pilares, no qual há a possibilidade de conexão com o divino. Desta forma, podemos entender o MA como o momento-entre, que é também espaço-entre. No MA, espaço e tempo são elementos interdependentes e indissociáveis. 

Essa forma estética apresenta o vazio como um momento de possibilidades; o vazio entre cheios é o que dá forma ao todo.

Como objeto de estudo, o grupo se aproximou do Casarão do Chá em Mogi das Cruzes, construído em 1942, pelo construtor japonês Kazuo Hanaoka. 

Com o aprofundamento da pesquisa ficou claro que as diferentes formas de pensar e se relacionar com o tempo coexistem e podem ser agentes na formação de um mesmo espaço. Diferentes concepções temporais sobrepõe-se formando o que é, hoje, o Casarão do Chá. A leitura deste panorama não é, portanto, linear, pode traçar diferentes caminhos, misturando as camadas de tempo que formam este espaço.

O objeto-instalação, criado pelo grupo, sintetiza essa leitura ao mesmo tempo que representa simbologias do conceito MA, como a valorização do vazio e da subjetividade.

objeto-instalação

etapa 3 | síntese das temporalidades

cilindro planificado

Após um aprofundamento nas pesquisas acerca dos “tempos” do Casarão do Chá, o grupo concluiu que essa leitura não deveria ser linear, e sim permitir liberdade na escolha de qual caminho traçar; ao mesmo tempo que permita o cruzamento de todos as informações em uma rede de sobreposições.

Desta forma, o grupo organizou os produtos (plantas, desenhos, imagens e textos) que contam a história das temporalidades do Casarão, em um objeto cilíndrico, e pendurado. O objeto ao mesmo tempo que cria um ciclo, sem começo ou final, para a leitura, também traz movimento e descontrole, sensações que representam nossa relação com o tempo.

etapa 2 | o tempo do casarão

Após a etapa de pesquisas conceituais sobre formas de ver o tempo, o grupo realizou uma serie de percursos buscando alguma espacialidade que refletisse as questões levantadas até então.

Ao depararmo-nos com uma notícia de possível despejo de uma família do Casarão do Chá em Mogi das Cruzes, nos aproximamos deste local como objeto de estudo.

registros das pesquisas de campo

O Casarão do Chá foi uma fábrica de chá, construída pelo carpinteiro japonês Kazuo Hanaoka, no período em que a indústria de chá do brasil crescia no mercado internacional. A região agrícola de Mogi das Cruzes, foi nesta época destino de muitos imigrantes japoneses que trouxeram o conhecimento de tratamento da planta do chá que fez com que essa produção ganhasse muita importância no local.

visita do grupo ao Casarão do Chá

Ficou claro que as diferentes formas de pensar e se relacionar com o tempo coexistem e podem ser agentes na formação de um mesmo espaço. Diferentes concepções temporais sobrepõe-se formando o que é, hoje, o Casarão do Chá.

Assim o grupo partiu pra experimentações gráficas que dessem conta de criar um panorama com todos os diferentes “tempos” encontrado no Casarão do Chá, respeitando a melhor forma de representar cada um.

Os tempos do Casarão:

  • tempo rural
  • tempo do ritual do chá
  • tempo da indústria
  • tempo dos espaços
  • tempo dos materiais

etapa 1 | tempo

Com uma perspectiva de reflexão bastante ampla, este trabalho pretendia inicialmente criar um paralelo entre os modos japonês e brasileiro de compreender as noções de tempo e espaço, resultando no modo de conceber seus espaços arquitetônicos.

O grupo iniciou a pesquisa por meio de análises linguísticas, por considerarmos que a língua é uma expressão cultural tangível, assim como a linguagem arquitetônica.

Apos ter contato com uma gama de percepções temporais e espaciais encontradas em literatura científica ocidental (livro “Os sonhos de Einstein”), o grupo começou a elencar espaços que produzissem quebras nas sensações de tempo dentro do nosso campo de conhecimento como: locais de culto sagrado, museus e galerias, shoppings, dentre outros, compreendendo uma forma ocidental – e capitalista – de tomar o tempo linear e cronologicamente, sempre rumando a algum tipo de progresso, sendo o tempo e espaço dissociáveis e infinitos.

Em contraposição, em nossas pesquisas, tivemos contato com o termo japonês “Ma”, formador tanto do conceito espaço quanto do tempo, sendo então uma compreensão ancestral da origem deste dois conceitos interligados. A palavra “Ma” remete especialmente a um espaco-tempo ausente, sustentado dentro de uma materialidade – é possível usar como exemplo o espaço branco do papel que se mantém em um desenho, ou o intervalo de silêncio em uma música, sendo vazios extremamente importantes para o sustento e valorização da imagem ou do som.

Este conceito, que tem sua origem no espaço tempo arquitetônico resultante do vazio criado entorno de templos e espaços sagrados japoneses, continua a se expressar na arquitetura japonesa.

Conforme encontramos em pesquisas, muitos brasileiros buscaram compreender o conceito e tentaram aplica-lo à construções da arquitetura brasileira, elencando os vazios potenciais de edifícios como masp, mube, minhocão-aberto, fau, dentre outros.

Houveram muitas tentativas vindas do próprio oriente de tentar expressar o conceito para o ocidente, e o grupo vem percebendo a dificuldade de transportá-lo em alguma tradução.

Mas continuamos no interesse de compreendê-lo, com uma chave de pesquisa da memória, mesmo que sem o objetivo final de encontra tradução precisa.

espacialidades do conceito MA de tempo-espaço