G42 | Lanchonetes de Rua

Manifestamos uma inquietação em analisar as lanchonetes de rua, corriqueiros que permeiam a cidade de São Paulo. Estes, estão atrelados a rotina do indivíduo urbano, em torno do trabalho e da moradia. Estes  Indivíduos que a utilizam, têm o hábito de tomar um café no intervalo do trabalho, tomar um lanche na volta para casa ou de se reunir com amigos para tomar uma cerveja. As lanchonetes de rua configuram espaços de convívio, e são encontradas nos mais diversos edifícios, esquinas e galerias.  O estudo possibilita a reflexão da rua como intermédio do espaço público e do privado, e da sua relação com locais do cotidiano.

Ao propor um estudo sobre as  tipologias das lanchonetes, pretendemos não sintetizar uma matriz reprodutível de negócio, mas sim abrir uma possibilidade de debate que esse símbolo da cultura tensiona. Elencamos um recorte, das lanchonetes situadas no bairro da republica,  pois nele identificamos uma legibilidade na “rede de fixos e dinâmica de fluxos” desse território como algo rico e diverso.

Buscamos não só uma tradução tipológica dos estabelecimentos mas também o entendimento dessa construção simbólica que se constitui na intercessão dessa arquitetura e a cidade.

Reconhecemos que as relações econômicas de consumo são um objeto de estudo relevante, mas não acreditamos que seja essencial para essa pesquisa, por isso não pretendemos entrar nos pormenores das relações mercadológicas.

Fomentar um dos ponto de vista do que é a identidade paulistana, reconhecendo nesses estabelecimentos um caráter identitário, é também legitimar nesse cotidiano uma manifestação cultural.

Na fase de pesquisa e coleta de dados, iniciamos a análise das informações levantadas em campo e nos deparamos com relações que vão além de tipologias. A essência de uma lanchonete é fluida e se traduz em espaço por um processo de adaptabilidade ao sítio onde está inserida, como um líquido que se adapta ao recipiente. Sua configuração espacial se organiza como uma operação de vocábulos (elementos tipos) que se adaptam conforme a relação estabelecida com a cidade.

Os elementos tipológicos funcionam como um léxico que compõem essa estrutura que entendemos como lanchonete e suas peculiaridades funcionam como sotaques, que fazem cada estabelecimento ser conectado com uma linguagem (idioma) mas ser compreendido com as peculiares do lugar onde está inserido.

Essas relações são, ao mesmo tempo, passivas e ativas. Passivas pois a dinâmica daquele sítio configura esse espaço, e ativas pois sua presença dinamiza o lugar onde está inserido, como uma arquitetura autóctone do centro de São Paulo.

Para entender qualquer dinâmica urbana no bairro da República, precisamos admitir de imediato que se trata de um território diverso. Com a presença abundante de comércio, torres empresariais, galerias, edifícios institucionais e residenciais integrados à um sistema de mobilidade pública eficiente.

As lanchonetes atendem apenas uma parcela das demandas do bairro, o que garante esta procura é justamente a alta concentração de pessoas, que estão próximas e manifestam os mais diferentes gostos e necessidades. A alta incidência de lanchonetes de rua na República não é mera coincidência, existe por um conjunto de fatores.

A praça da República, é um ponto nodal do bairro pela convergência de sistema de transportes, bombeia um enorme fluxo de pessoas para seu entorno, de aproximadamente 150 mil usuários por mês (metrosp). Atingindo raio de aproximadamente 2km em relação a localidade das outras estações do entorno, Anhangabaú, Higienópolis-Mackenzie, Santa Cecília, Luz e São Bento.

Chegando por metrô, ônibus ou carro ao atingir a escala do pedestre, o indivíduo percorre diferentes tipos de quadras com suas variadas formas e acessos. As ruas na Republica promovem diversidade à partir das diferentes edificações contidas nas quadras. Variando de porte e de uso, muitos prédios apresentam uso misto com térreo ativo. A combinação desses serviços oferecidos na rua age como um ciclo de sustentação econômico-social (cooperação mútua).

“Se uma área da cidade tiver apenas prédios novos, as empresas que venham a existir nesse local estarão automaticamente limitadas àquelas que podem arcar com os custos dos novos edifícios. Redes de lojas, redes de restaurantes e bancos instalam-se em novas construções. Mas bares de bairro, restaurantes típicos e casas de penhores instalam-se em prédios antigos. O florescimento da diversidade em qualquer lugar da cidade pressupõe a mistura de empresas de rendimentos altos, médios e baixos.”  Jacobs, Jane

A heterogeneidade de horários e rotinas gerada pelos diferentes usos, configura diversos tempos de passagem com intervalo curto entre um e outro. Essa frequência garante um ambiente produtivo para que pequenos empreendimentos se estabeleçam nos locais.

As quadras do bairro da República podem ser subdividida  s em microrregiões devido suas semelhanças funcionais e construtivas. Por exemplo a região entre  as grandes avenidas, ipiranga, são luís e consolação, as quais convergem edifícios de grande porte, como o copan ou edifício itália, e conformam dinâmicas urbanas características do espaço em que estão inseridas. Dinâmicas diferentes da região ao redor da rua barão de itapetininga,  que com seus calçadões, concentram as relações de comércio de varejo voltado para os pedestres,

Estas sofrem influências e agregam características dos bairros adjacentes, desenvolvendo uma própria dinâmica que conforma sua diversidade.

Outro elemento urbano são as galerias com comércio  e ruas para pedestres que geram em áreas internas um fluxos de pedestres constante, possibilitando a existência de lanchonetes dentro desses espaços não conectados diretamente com a rua.

Conceitos

Público x  Privado

As fronteiras entre o espaço interno e externo da lanchonete são fluidas e se dissolvem em gradações, variam de acordo com a disposição de acordo com a especificidade do lote.

O balcão demonstra-se como limite final para o ambiente interno de serviços, cozinha, chapa, etc.

O espaço interno funciona como intermédio entre a calçada e a rua, é, ao mesmo tempo, uma extensão do balcão e da calçada.

(Mesas e cadeiras ocupam a calçada como extensão da lanchonete).

Pessoas

A força motriz da lanchonete não se estabelece na dinâmica com a rua mas em sua relação com o pedestre, ele é o elemento essencial. Sua configuração espacial é decorrência da relação que se pretende estabelecer com o cliente.

Com isso percebemos locais com grande configurações que possuem um rápido consumo, em outras com maior espaço a opção de mesas e possibilidade de permanência.

O  fluxo de passantes propicia a presença da lanchonete, sendo ela em uma rua ou galeria.

Balcão

O Balcão é o elemento que proporciona o intermédio das relações pessoais – entre cliente e garçom –  para além de sua função de apoio ou vitrine.

Sua configuração organiza o espaço interno e externo, como delimitação de onde se estabelecem os programas e as funcionalidades de cada área da lanchonete, os fluxos de passagem e a lógica do trabalho, sendo assim um elemento central em todas as lanchonetes aqui investigadas.

Cardápios

As lanchonetes de rua fazem com que o cardápio de papel seja um elemento secundário para o cliente, uma vez que os produtos oferecidos se espalham pela sua própria espacialidade. Numa primeira aproximação do pedestre, o cardápio usual é dissolvido em três elementos principais, a vitrine de salgados ou lanches, o próprio funcionário atrás do balcão  e os letreiros que são normalmente fixados nas partes superiores da parede. Isso faz com que a própria dinâmica da lanchonete funcione de uma maneira mais ágil e prática.

Esquina/rua

A localização estratégica de uma esquina proporciona para a lanchonete uma maior permeabilidade entre a seu interior e a calçada além de aumentar sua zona de contato com a rua.

Sua abertura para duas calçadas aumenta sua área de contato, possibilitando maior fluxo de pedestres dentro do estabelecimento. Assim, sua relação com a calçada se expande  formando uma delimitação triangular em um fluxo transversal. O pedestre cria uma relação entre as aberturas e se aproxima dos cardápios visuais e da vitrine.

Lanchonete mínima

A possibilidade de uma lanchonete se firmar em lotes com espaços mínimos e/ou residuais demonstra seu grande potencial de adaptabilidade. E também, como os elementos que a compõem pode se sintetizar de tal forma a ocuparem (um lote mínimo).
As fronteiras entre público e privado se estreitam, sendo o balcão o intermediador desses espaços e as mesas e cadeiras que ocupam a calçada aparecem como conquistadores do espaço público.

Toldo

O toldo aparece em algumas lanchonetes como uma extensão do teto da lanchonete. Em alguns casos prolonga a área interna e a multiplica a área interna em dois. Avançando sobre o que seria o espaço público (calçada) promove um espaço de abrigo e amplia-se para a calçada.

Fachada

As fachadas das lanchonetes se conformam em aberturas desenhadas pelos vãos dos pilares estruturais do prédio acima.
São a linha de chamada para os pedestres, onde aparecem folders e cardápios visuais com as opções de lanches e promoções combinadas. Muitas lanchonetes avançam para além do limite da fachada, ocupando a calçada, seja com mesas e cadeiras ou apenas com os cartazes e folders dos lanches. E as lanchonetes posicionadas em esquinas possuem a maior permeabilidade que as duas – ou mais – fachadas proporcionam.

ENTREGA 2

APRESENTAÇÃO

ENTREGA 3

G42