G45 – Habitação pós desastre

SEGUNDA BANCA – GRUPO 45 | HABITAÇÃO PÓS DESASTRE

Dany Cohen|Luigi Franco|Mably Rocha|Rafaela Ferreira| Raquel Andrade|Tainá Arena

Com o início do seminário internacional, vimos que a luta pelo direito à cidade nunca foi tão evidente, sendo questão norteadora do estúdio vertical deste ano. Vimos que não ter casa é, não só não pertencer fisicamente a cidade, mas também não pertencer a seus laços sociais. É não conseguir empregos ou usufruir da maioria dos espaços públicos. Dessa forma, com a negação do direito à moradia, o direito a cidade também é negado.

No workshop do seminário internacional, nosso grupo teve aulas com a professora Anat Litwin, que é artista, curadora e pesquisadora israel/estadunidense. Foi fundadora do Projeto HomeBase (2006 – 2016, NYC – Berlin – Jerusalém) e co – fundadora das residências artísticas LABA em NYC, e Beita em Jerusalém. Também, obteve a bolsa Andy Warhol 2013 para pesquisa curatorial com foco em artistas urbanos do futuro. A visão de Anat sobre a cidade, em relação com as suas formas artísticas, é explorada com as mais profundas análises, deixando escapar toda essa bagagem teórica para as suas aulas.

No workshop que fizemos com ela, sempre nos fez questionar sobre duas indagações: “o que é morar?” e “do que a cidade é formada?”. E, conforme fomos tendo conversas com ela, fomos aprendendo que a cidade é feita de esferas públicas e privadas, altamente inter-relacionadas. Podemos entender elas como: “o lugar da residência”, “o lugar doméstico”, “o bairro” e por fim, “a cidade”. E logo, apresenta-se uma próxima pergunta: “Como entender uma cidade?”.

Segundo Anat, uma forma muito eficaz de se entender uma cidade é primeiro procurar por, o que ela diz ser, “momentos extremos”. Entre eles, temos alguns exemplos como: um parto, hora de almoço dos trabalhadores, um funeral em um cemitério ou uma casa de shows/balada lotada durante a madrugada. Todos possuem em comum peculiaridades, características e histórias latentes aos olhos de um observador. E foi dessa maneira que começamos a investigação do workshop. Depois de procurar por essas situações, chegou o momento de irmos explorar uma escala um pouco mais reduzida: fomos explorar o Conjunto Santos Dumont na bela vista. E foi andando pela ruas adjacentes, conversando com as pessoas em seu trabalho, vivenciando o térreo do edifício e entrevistando os moradores, que iríamos entender mais sobre esses espaços domésticos. E por último, a experiência final foi dormir por uma noite na casa de outro integrante do grupo, fazendo uma troca de lares. Dessa forma, vivenciando uma outra maneira de morar, botando em questões a nossa própria ideia de lar, iríamos conhecer essa escala mais profunda da cidade.

Dessa maneira, ficou claro que essas diferentes esferas, que formam uma rede complexas de eventos, são responsáveis pela formação da vida na cidade. Esse é um pensamento que muito tem haver com a forma de pensar de formulações mais recentes do campo do urbanismo, como as de Jane Jacobs. Ela que em seus textos, vê que a cidade é melhor analisada a partir de eventos particulares, que compõem uma rede e que muito tem haver com os interesses no espaço urbano.

Logo, com o fim do seminário internacional e o começo dos trabalhos do estúdio vertical, fomos norteados pela idéia de lar como parte essencial da vida urbana, de: arquitetura como direito humano. Idéia muito explorada por outro palestrante do seminário internacional, Michelle di Marco, e da organização internacional EAHR Emergency Architeture & Human Rights, da qual ele é diretor. Arquiteto com mestrado em Gestão de Desastres, com mais de 6 anos de experiência no setor humanitário e de desenvolvimento, está envolvido em vários projetos de pesquisa relacionados com o setor humanitário. Di Marco leciona na pós – graduação Emergency & Resilience na University of Venice IUAV e faz palestra em outras universidades ao redor do mundo. Tendo como chefe e fundador da organização, Jorge Lobos, Michelle nos mostrou na semana do seminário, muitos pensamos na qual seu chefe também compartilha, como o de que: “Nós nos perguntamos por que a arquitetura está ausente em certos processos, quando a arquitetura é parte do conhecimento humano. O conhecimento humano é coletivo. Não pertence a nenhum indivíduo. Todos, de alguma forma ou outra, dependemos do conhecimento dos demais. A criação do conhecimento e da arquitetura, dentro dessa lógica, nos parece que pertence à humanidade. Nessa dimensão, nos parece que a arquitetura é um direito humano.”

Tudo isso nos fez pensar em situações de extrema fragilidade no mundo, e no nosso contexto brasileiro. E o acontecido mais latente de notícias recentemente no Brasil, efervescente no contexto de desastre e moradia, foi: o desastre de Brumadinho. Logo, pensamos, o que poderíamos fazer, exercendo nossa prática de arquitetura, para ajudar numa situação como essa? É daí que nosso trabalho de EV parte.

Na primeira banca mostramos o que foi o desastre de Brumadinho, e qual sua relação com o desastre de Mariana, de 4 anos antes. Pesquisamos exemplos de projeto de residências de cunho emergencial pelo mundo. Mostramos como Shigeru Ban constrói habitáculos de papel para refugiados em Ruanda. Como Roberto Bologna e Fernando Barthi desenharam sua construção modular de residência. E agora, o que fazer no caso de Brumadinho?

Pensando no ponto de vista que para projetar é preciso conhecer, pensamos em dividir o nosso Tc-Ev em dois momentos. Uma primeira parte, durante esse primeiro semestre de 2019, de pesquisa e conhecimento da situação, além de uma formalização de uma metodologia de reconstrução para Brumadinho. E a segunda parte, no segundo semestre, como a definição do modo de construir que atenderia todas as questões levantadas pela primeira etapa.

Já podemos adiantar algumas questões e indagações. A primeira é: “O que subsidia a questão de nosso projeto?”, precedido por: “o que aconteceu”, “como aconteceu?”, “afetou quem?”. Nesse caso, ao se deparar com um projeto nesse contexto essas pergunta também vem: “para quem seria o projeto?”, “quem foi afetado?”, “só moradias foram destruídas?”. Num contexto tão peculiar ambientalmente, é de extrema importância, também, um olhar profundo sobre as questões ambientais, de contaminação da água e do solo, e se o universo de questões é restrito a região ou é um assunto mais nacional.

Dessa forma iremos apresentar alguns dados sobre os desastres de Brumadinho e de Mariana, além de fazer a comparação entre os dois. Como o primeiro – de Brumadinho – sendo um desastre com um número imenso de mortes, e o segundo – de Mariana – como vítima de um impacto ambiental imenso, valendo dizer que os dois tiveram muitas vidas perdidas e uma poluição ambiental gigante. Apresentamos também, como nada de muita relevância foi feito em relação ao desastre de Mariana, que inclusive, passados 4 anos, não foi comprida a meta de reassentamentos. E em comparação com essa situação procuramos, também,  um exemplo de plano bem executado, análogo a esse: a reconstrução de São Luís do Paraitinga.

Também fizemos um brainstorm sobre o que está relacionado ao nosso possível plano de ação. Evidenciando que é um projeto para um tipo de desastre específico, rompimento de barragem de rejeitos, em Brumadinho, é necessário pensar tanto numa esfera mais ampla – de escala urbana – quando numa mais particular – de moradia. E num caso de um módulo, indagamos que existem dois caminhos, um de intenção permanente, e outro de intenção mais efêmera.

Agora, nessa banca, pretendemos, também, apresentar além de nossa estratégia de trabalho, nosso plano, nossa agenda. Até a nossa banca final temos 10 semanas. Pensamos em dividir as próximas 4: em aprofundamento e conhecimento maior da situação. Ela será baseada em pesquisas, reuniões, debates, entrevistas, estudo sobre reconstruções cidades, estudo sobre a formação e da lógica da cidade de Brumadinho, estudo sobre o lugar em que a cidade se encontra e um estudo sobre a sua relação com o país. Nas outras 5 semanas, deverão ser formalizadas e definidas as metodologias de projeto para a situação de Brumadinho. De tudo que vimos nas semanas anteriores, vamos entender qual poderia ser uma forma de reconstrução para Brumadinho, levando em conta todas as questões antes estudadas, com o desenvolvimento de um anteprojeto a ser apresentado na banda final.