Dualidade: projeto urbano e mercado imobiliário

O Tema 

O presente trabalho pretende explorar a relação, muitas vezes conflituosa, entre urbanismo e capital. Entende-se que as lógicas urbanas ocorrem de diversas maneiras e com diferentes valores para os agentes envolvidos. Surgem lógicas que muitas vezes parecem contraditórias no urbanismo. Existe um confronto frequente entre aquilo que tem valor para o mercado e aquilo que tem valor para a academia. Contradições em torno de uma única produção que serão exploradas por meio do jardim das Perdizes como objeto de estudo. Pretende-se estudar os valores e confrontos urbanos entre os diversos agentes e públicos neste meio. Porém, não há aqui nenhuma intenção em construir um esboço maniqueísta sobre a produção oriunda do mercado imobiliário. É claro que existem problemas, mas também existem porquês. Existem lógicas que o estruturam enquanto campo e o fazem assim também com o meio urbano. Esse trabalho, pretende então, investigar e confrontar sem ser demasiadamente tendencioso.

O estudo de caso do empreendimento do Jardim das Perdizes será pretexto para discussão de pano de fundo sobre a produção da cidade. Tangenciando a noção, presente no Urbanismo Contemporâneo, de democratização das decisões sobre o uso do capital excedente para urbanização. Questionando a estigmatização do olhar sobre o mercado e se posicionar a favor de uma coesão entre academia, estado, sociedade e os investidores. De forma a juntar as potencialidades, as demandas, ideias e recursos em prol de uma cidade que se transforma mais democraticamente. Além do juízo estético o que mais deveria ser criticado construtivamente a respeito do legado do mercado imobiliário que constrói massivamente a cidade?

O Local – Objeto de Estudo
O jardim das perdizes foi escolhido enquanto objeto de estudo pois traz consigo a não concretização de várias outras concepções de cidade anteriores ao projeto final construído. Soma-se a isso, a vontade e necessidade comum aos envolvidos no trabalho – e muitos urbanistas também; de entender São Paulo como uma cidade com grandes problemas urbanos e, por consequência, com grandes necessidades de transformações urbanas. Logo, encontrar possíveis alternativas de desenho no local de maior escala enquanto projeto urbano construído nos últimos tempos é maneira de dialogar diretamente com esse problema e investigar possíveis maneiras para os arquitetos e urbanistas se posicionarem frente ao mercado para serem absorvidos e, assim, proporcionarem outras urbanidades para São Paulo.


A Proposta – Projeto Urbano
Esse trabalho parte das inquietações que os confrontos entre o urbanismo concebido na academia e o concretizado junto ao mercado de trabalho proporcionam. Entendendo que a fonte de discordâncias é a ocupação de cidade que os grandes empreendimentos imobiliários produzem, dessa forma, o presente trabalho pretende discutir desenho mas não apenas as concepções necessárias para negar o tipo de ocupação do mercado imobiliário. Em verdade, há aqui uma intenção clara em se apropriar das mesmas lógicas de produção do espaço urbano pelas construtoras para tentar atuar de maneira a produzir um desenho de cidade melhor do que aquele que vem sendo desenvolvido. É importante ressaltar que isso não significa uma crítica pela crítica. Ao contrário disso, pretende-se aceitar o contexto atual – a não absorção pelo mercado de bons projetos urbanos, para se posicionar enquanto arquitetas e urbanistas perante essa condição, para então, encontrar possíveis caminhos de inserção e absorção do bom urbanismo por esse mercado.

Justificativa – Comparações
Como esse trabalho não pretende estagnar-se na crítica, existe uma intenção de traçar possíveis caminhos para esse problema, e por isso a atitude projetual é premissa básica para o desenvolvimento do trabalho. Pretende-se analisar sistematicamente o desenho existente hoje no jardim das perdizes para entender os porquês dessa concepção de desenho. Existem questões e interesses que atendem a demandas econômicas, sociais e legais que são provenientes tanto do mercado quanto dos clientes. Tendo isso em mente, pretende-se entender quais as lógicas e os porquês que determinam esse tipo de desenho, que diz respeito não apenas ao jardim das perdizes mas à proliferação crescente de condomínio murados que negam a cidade de São Paulo. Com a compreensão dessas lógicas, pretende-se usá-las enquanto desafios projetuais de investigação de desenho. Ou seja, ao mesmo tempo em que se entende os porquês- legais, sociais ou mercadológicos,  dos desenhos problemáticos oriundos do mercado, esses porquês serão absorvidos por nós, para ao mesmo tempo tentarmos nos apropriar deles para produzir desenhos mais interessantes de urbanidade. Ou seja, não há aqui a intenção de encontrar o melhor desenho para o terreno do Jardim das Perdizes – tendo em vista que diversos bons projetos já foram propostos ali, mas sim uma intenção de investigar caminhos de aproximação com o desenho urbano que passem também pelos interesses do mercado, dos usuários e atendam a normatividade.

Uma Questão de Desenho
Por mais que exista o mercado, os arquitetos, os clientes e as múltiplas leis de zoneamento; o campo urbanístico se consolida em uma estrutura complexa que resulta num tipo de desenho e ocupação de cidade. Dessa maneira, e tendo em mente o tempo de trabalho, ao invés de estudar todas as leis e depois debruçar-se sobre o projeto urbano,  pretende-se, entender atrás de cada problema de desenho os porquês para tal – sejam eles econômicos, sociais, mercantis, legais etc; articulando e investigando ao mesmo tempo outras estratégias de desenho que respondam às mesmas demandas mas que proporcionem outro tipo de urbanidade.
Dessa maneira o estudo das leis e condicionantes de ocupação urbana será estudado à medida que forem percibidos no caso do jardim das perdizes para, em seguida, serem estudados novamente com os desenhos propositivos.

O Local – Projeto Urbano
Entendendo a necessidade em estabelecer parâmetros de comparação, bem como projetar partindo de critérios oriundos do mercado de trabalho que serão descobertos por meio do estudo de caso do jardim das perdizes; serão encontrados os porquês que estimularam o tipo de desenho que o presente trabalho nega enquanto qualidade. Logo, fazer um projeto urbano no mesmo terreno é maneira de dialogar diretamente com os problemas e conflitos entre urbanismo e mercado encontrados neste trabalho. Pois é de compreensão coletiva a complexidade do problema abordado aqui, logo, concentrar-se em um terreno e nos porquês dessa ocupação em específico para esboçar outros desenhos, não é uma busca pelo melhor desenho de projeto – tendo em mente que já ocorreram concursos para a região; mas sim uma investigação de posicionamento para os arquitetos se apropriarem de questões mercadológicas, para então, abrir espaço de possíveis absorções pelo mercado de projetos urbanos que não neguem a cidade. Dessa maneira há uma questão de desenho mas não uma questão do melhor desenho mais das maneiras de se aproximar de um possível desenho mais concretizável perante o mercado.

 

Cronograma de Trabalho
02 out  (3 semanas de desenvolvimento)
1 = identificar e sistematizar os problemas de desenho no jardim das perdizes com prioridade para questões de urbanidade e paisagem.

2 = análise das leis e história que condicionaram a ocupação do solo na Barra Funda.

3 = investigação dos porquês que condicionam os desenhos problemáticos

4 = pensar as estratégias de desenho, enquanto alternativa, para os problemas já levantados

06 nov  (5 semanas de desenvolvimento)
(compreensão das lógicas de desenho para se apropriar delas)
1 = realização de entrevistas com os possíveis interessados para entender as lógicas que condicionam o jardim das perdizes enquanto ocupação urbana
2 = propor estratégias de desenho, enquanto alternativa, para os problemas levantados

04 dez   (2 semanas *semana de e.v.)
1  = consolidar possíveis estratégias de desenho, enquanto alternativa de projeto urbano, para os problemas levantados no semestre
2 = consolidação do material gráfico e investigação de abordagem para a banca final

fonte da imagem: http://www.compreseuapartamento.com.br/jardim_das_perdizes.htm

fonte da imagem: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/04.044/2398

fonte da imagem: http://www.iabsp.org.br/concurso_agua_branca_projeto_07.pdf