G21 Modos de Morar

Etapa 01

Etapa 02

O tema “habitação” e a aproximação da discussão do ambiente doméstico foi recorrente desde os primeiros encontros do grupo. Houve o interesse de debater a maneira de morar contemporânea, o uso e divisão dos espaços e as configurações domésticas que ali ocupam. Como primeira aproximação, surgiu a necessidade de criar um panorama histórico da moradia no Brasil, para aí sim compreender melhor as conformações domésticas hoje e como a arquitetura se relaciona com essa realidade. 
O livro “O quadro da arquitetura no Brasil”, de Nestor Goulart, serviu de base para a construção dessa análise, que teve como produto uma linha do tempo com as tipologias principais de cada período, que ia do Brasil colônia à Brasília. Ao final da pesquisa chegou-se a conclusão de que o recorte do livro não era suficiente: se queríamos discutir a contemporaneidade, precisávamos nos deleitar sobre uma produção mais próxima temporalmente. Elencamos então os anos 50/60, auge do modernismo, período influente na arquitetura até hoje. Ao nos debruçarmos sobre ele compilamos variadas tipologias de moradia; como residências, conjuntos habitacionais e edifícios; que posteriormente foram filtrados em apenas três projetos, sendo cada um deles exemplar de uma tipologia. O objetivo era comparar tais projetos com outros construídos no século XXI e assim entender as mudanças que aconteceram no desenho arquitetônico ao longo dos anos.
Durante a pesquisa, porém, foram sendo descobertas paralelamente várias reformas nos projetos que estavam sendo estudados, e surgiu então a pergunta: não seria mais interessantes comparar edifícios modernos e sua planta original com as modificações feitas por reformas nesse mesmo edifício? Dessa maneira conseguiríamos talvez compreender quais seriam as novas demandas dessas configurações domésticas e também elencar por quem seriam compostos tais núcleos, uma vez que essa questão também norteou nossas discussões. 
A arquitetura como método de análise seria nossa principal ferramenta, mas surgiu a necessidade de entrar em contato com os moradores e conhecer os apartamentos para uma análise mais profunda. Foi necessário escolher um edifício como objeto de estudo, e para tal elencamos algumas demandas: ele deveria ser moderno (anos 50/60), representante do ideário modernista e de fato construído (em São Paulo). Por conta do desejo de entrevistas e visitas, era necessário que houvesse certa acessibilidade para que elas acontecessem. Além disso, era importante que ele tivesse variadas tipologias e com grande probabilidade de reformas. Nossa escolha, então, foi o Copan.

planta original e modificada de apartamento no edifício gemini

Copan 
Localizado na região central da capital paulista, na avenida Ipiranga em um terreno de grandes dimensões de formato irregular.
São Paulo vivia uma intensa dinâmica de transformação e crescimento diretamente relacionada ao avanço industrial que resultou na expressiva expansão da malha urbana e o adensamento populacional. Esses fatores determinaram a necessidade de verticalizar a região central da cidade, dessa forma iniciando um processo de revitalização do centro na década de 50. A construção de um edifício desse porte foi pensado juntamente com as comemorações do quarto centenário da cidade de São Paulo e a tentativa de afirmar o status de metropole.

Proposta do Oscar Niemeyer
o edifício projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer no ano de 1951 pretendia a construção de um complexo que possuísse dois prédios, um direcionado ao hotel com 600 apartamentos em forma laminar e o outro para habitação em formato de S com 30 andares e 900 apartamentos com diferentes tipologias. A conexão se dava através de uma marquise que abrigaria comércios e serviços, além disso foi pensando um cinema, teto-jardim.

Proposta construída – supervisão de Carlos Lemos
No inicio da obra, Oscar Niemeyer precisou se ausentar para atender o chamado da construção da nova capital do país, deixando o projeto nas mãos do arquiteto Carlos Lemos. Nesse mesmo contexto, o Banco Nacional Imobiliário vai a falência e o Banco Bradesco assume a obra em 1957. Algumas alterações no projeto foram solicitadas pelo novo financiador, resultando em uma grande alteração do partido. Nota-se a criação do bloco A ( apartamentos de dois quartos) com duas unidades por andar, um desmembramento do bloco B que deu a origem a apartamentos com 2 fachadas. No projeto original, os blocos E e F eram apartamentos de 4 dormitórios mais o aposento doméstico, porém devido a demanda do mercado imobiliário eles foram transformados em quitinetes e apartamentos com 1 dormitório. Além disso, o prédio destinado ao hotel foi transformado em uma agencia do próprio banco.

plantas desenhada, construída e modificada de apartamento no edifício copan

Fotos visitas copan


Etapa 3

O catálogo em questão tem o objetivo de evidenciar as novas demandas das configurações familiares contemporâneas e como essas dinâmicas influenciam o espaço doméstico das tipologias de um edifício icônico, o Copan. Para isso, o trabalho se desdobra em visitas a esses apartamentos, conversa com os moradores e levantamento de planta; estando esta, atenta aos devidos detalhes – como o revestimento de piso, mobiliário e até objetos. A seleção de visitas foi realizada a partir da proximidade de professores e alunos que habitavam o Copan e, por conta disso, decidiu-se que o filtro de escolha de apartamentos seria a partir da participação do mundo da arquitetura. Cria-se então um acoplado dessas análises, contendo as principais informações recolhidas durante essa pesquisa e traduzido-as em desenhos, textos, fotos e ícones. A criação destes últimos tem a finalidade apenas de indicar ao leitor os principais pontos levantados a respeito das características e mudanças em relação a planta original, mas a verdadeira intenção do trabalho é fazer o leitor tirar suas próprias conclusões a partir da comparação da planta construída e atual.

Etapa 4 – Final

A questão da habitação sempre foi o foco desse estudo que tem seu inicio a partir das discussões sobre a sociedade atual e a sua maneira de habitar. Com isso dado, esse catálogo tem o objetivo de evidenciar as novas necessidades das configurações domésticas contemporâneas ao analisar a maneira com que elas interferem em espaços projetados para a demanda dos anos 50/60. Da mesma maneira, busca-se evidenciar a adequação, ou não, de tais espaços para uma nova realidade contemporânea.

Com objetivo de dar base aos estudos pretendidos, determina-se o que seria necessário para a escolha do edifício: o fácil acesso para viabilizar as visitas e entrevistas, que o edifício fosse capaz de representar o ideário de habitação moderna e que atendesse um diversificado público por possuir diferentes tipologias. Com tais exigências, o escolhe-se o Edifício Copan. A partir de então, separa-se o estudo em duas etapas que exploram os pontos citados a cima.

O trabalho tem a finalidade de indicar ao leitor os principais pontos levantados a respeito das características e mudanças em relação a planta original, e portanto, sua verdadeira intenção é fazer com que ele tire suas próprias conclusões a partir da comparação da planta construída e atual. É importante ressaltar que a amostragem adotada na pesquisa não torna possível tirar conclusões que representasse as 1160 unidades.

 

Parte 1

Na primeira aproximação com o tema e o objeto, começa a busca do modo como os moradores se apropriam dos espaços e as modificações que o apartamento sofreu para se adaptar as preferencias e demandas dos usuários na contemporaneidade.

As pesquisas dessa etapa se deram a partir de visitas aos apartamentos, levantamento e registros fotográficos que nos possibilitaram entender a configuração dos ambientes, a hierarquia dos cômodos e a disposição dos mobiliários.

A comparação constante com a planta construída foi extremamente importante para identificarmos as principais alterações estruturais e detalhes construtivos, desse modo as necessidades do morar contemporâneo começam a aparecer na pesquisa e já é possível perceber os principais modificações executadas nos apartamentos.

 

Parte 2

Após um estudo prévio dessas unidades, surge a necessidade de aprofundar as questões levantadas na primeira etapa com a finalidade de relacionar a organização da casa já estudada na etapa anterior com o cotidiano dos moradores e a dinâmica da casa e de que maneira esses itens influenciam no modo de morar.

Para isso, se fez necessário uma aproximação mais efetiva da rotina dos moradores, a partir de entrevistas que exemplificaram questões como a relação do morador com o apartamento, com os outros moradores e com o edifício e seus diferenciais.

Além das entrevistas com perguntas abertas, duas dinâmicas foram propostas aos entrevistados. A primeira quantifica as horas que cada pessoa passa em cada cômodo, exprimindo as preferencias pessoais e ocupar o espaço. Já a segunda, reitera a questão das reformas e adaptações estudadas no início do trabalho através de um convite aos moradores para desenharem as alterações que ainda gostariam de realizar.