A rua da Paim


APRESENTAÇÃO I – proposta inicial

O Conjunto Santos Dumont foi construído em 1956 por Aron Kogan. Formado por três torres de apartamentos, foi idealizado como um conjunto de apartamentos pequenos e kitnetes para a classe média, possui 499 unidades e aproximadamente 1700 moradores. Atualmente, os moradores são formados primariamente por migrantes nordestinos, principalmente do Ceará e do Piauí.

O prédio recobrou a segurança após meados dos anos 2000, mas ainda tem como memória recente os dias que fora dominado pelo tráfico, e ao avistar visitantes, os moradores contam histórias dessa época e avisam que as pessoas ainda jogam coisas das janelas.

Situado na rua Paim, o prédio está inserido no bairro do Bixiga, que anteriormente foi espaço de quilombos urbanos, reduto de imigrantes italianos e hoje é habitado por migrantes nordestinos de diversos estados. Ao conversarmos com os moradores, nos informaram que um dos pontos positivos de morar la era a proximidade da comunidade nordestina presente no bairro.

A proposta inicial da pesquisa é utilizar a etnografia como método de análise do conjunto, usando de uma aproximação mais pessoal por meio do desenho a mão livre para pesquisar a dinâmica de moradores nordestinos na Bela Vistam usando como base o cotidiano dos trabalhadores do Conjunto Santos Dumont.

APRESENTAÇÃO II – desenhar para entrar

Parecia que toda vez era igual. Chegando lá não sabíamos o que fazer, e todo mundo percebia que nao éramos de lá.

Queríamos mesmo era adentrar os prédios, conhecer os ambientes internos e a vida nos corredores. Tentamos entrar nos três, mas só conseguimos no 14 Bis.

“Pode entrar, mas vocês não vão falar com ninguém né?”

A idéia de conhecer as pessoas e transpor esse laço nos desenhos só se concretizou quando percebemos que o desenho seria o meio e não o fim.

Trocamos o entrar para desenhar pelo desenhar para entrar.

Como pontapé inicial escolhemos um fim de tarde, hora que as crianças voltavam da escola. A chama era de um retrato por uma história. Foi então que conhecemos o Antonio, a Hemillym, a Laurinha, a Kamilly, o Lucas Salles, o Pelé, o Ryan e tantos outros que fomos reencontrando ao longo das semanas.

A partir dai a nossa aproximação já não era tão estranha como antes. Chegando lá ainda não sabíamos exatamente o que fazer, mas sempre aparecia alguém que lembrava do outro dia e engatava um papo enquanto desenhávamos.

APRESENTAÇÃO III – aproximação com os moradores

A percepção durante o Ev foi mudando. Não dependia só do grupo, e sim das respostas que a comunidade daria às nossas ações; o que não podia ser planejado.O trabalho se construía e se direcionava a medida que visitávamos os prédios com essa intenção significativa.

O que antes era uma vontade de explorar os interiores dos edifícios, depois se tornou um olhar para a galeria. Começamos a entender as dinâmicas que acontecem internamente ao espaço da rua. Quem é amigo que quem, o que fazem, onde ficam, como as famílias se distribuem no espaço e, por fim, a complexa rede de relações das quais partem muitos dos acontecimentos.

A aproximação com as pessoas permitiu que nos inseríssemos nessa rede que passa despercebida aos olhos de quem anda pela rua Paim como mero observador.

Estar lá desenhando foi o que permitiu que enxergássemos essas peculiaridades. Muitas vezes a abordagem partia dos moradores pela curiosidade de conhecerem o que produzíamos; registros de um espaço tão familiar de seu cotidiano.

Surpreendentemente, o que para o grupo já era intimo e conhecido, se mostrou uma ferramenta em potencial. Entendemos o desenho como algo que, além de um produto foi uma metodologia de aproximação muito mais efetiva que imaginávamos.