G12 – Jockey Club de São Paulo

diego pinheiro | gabriela sá | giulia ziravello | guilherme trevizani |luna fonseca | valentina kacelnik

etapa 01

Ao nos depararmos com o tema Ainda o Direito à Cidade, ficou muito claro que deveríamos nos debruçar sobre um estudo de caso que trouxesse em si várias problemáticas quanto ao uso da cidade, de seus espaços e de suas dinâmicas.

Acabamos, dessa forma, por definir o Jockey Clube de São Paulo – tanto como entidade, quanto como espaço físico delimitado dentro da cidade – como objeto de nossa pesquisa, haja visto as questões e discussões que envolvem tal objeto, direta e indiretamente.

Durante Seminário Internacional iniciamos nossos questionamentos sobre este espaço e finalizamos o seminário com uma intervenção inicial. Um lambe de 15m questionando: “onde estão os espaços livres da nossa cidade? o jockey club significa alguma coisa para você? que falta faz 600.000m²?”.

Durante a pesquisa, teve-se acesso às resoluções de tombamento do complexo do Jockey pelo CONDEPHAAT e pelo CONPRESP, realizadas em 2010 e 2013, respectivamente. Nos documentos, para além do tombamento das edificações mais significativas, chamou a atenção do grupo foi a questão do tombamento da ambiência daquele espaço, enquanto vazio dentro da malha urbana consolidada de seu entorno. Este fato, junto à discussão levantada em 2017 pelo então prefeito João Doria sobre a transformação daquele espaço em parque urbano (a exemplo do Parque Chácara do Jockey, na Vila Sônia), mostra a vocação e potencial daquele espaço para ser transformado. O projeto que foi apresentado pela prefeitura na época não se mostrou a altura da complexidade e da importância daquele espaço, deixando de lado questões primordiais, como a interação com as preexistências e a abertura da área de forma efetiva pra a cidade, já que propunha a criação de um parque privado de uso público.

etapa 02

Constatou-se, também, que o Jockey Clube de São Paulo, enquanto instituição, encontra-se falido, devendo milhões de reais em impostos para o Estado e incapaz de suprir as demandas dos associados de seu clube. Chegou a ser criado, em 2014, um Plano Diretor Estratégico que pudesse organizar e reinventar a instituição e a maneira como ela usa o espaço em que se insere até o ano de 2024 mas, segundo a pesquisas e visitas de campo realizada pelo grupo, nada do plano foi efetivado. Assim, o Jockey continua a subutilizar o espaço.

Dessa forma, fez-se uma análise quanto a pertinência da manutenção do uso desse espaço como hipódromo. Além da subutilização do espaço e do uso excludente dos pontos de vista socioeconômicos – tendo em vista a localização do complexo dentro da malha urbana da cidade e a área de mais de 600.000 metros quadrados destinados a um só uso -, nada é citado quanto à manutenção do uso nas resoluções de tombamento do complexo. Ademais, durante uma das visitas realizadas ao local, o grupo presenciou um ato de maus-tratos contra um dos cavalos na área das duchas pré e pós-corrida, onde o funcionário do Jockey chutou algumas vezes o cavalo para que ele parasse de se mexer. Sendo assim, o grupo optou por não manter o uso atual de hipódromo no local, criar um parque público aberto e considerar que a instituição seja realocada para outro espaço, fora da malha urbana consolidada.

Em seguida, iniciou-se a discussão sobre como transformar e integrar o complexo de forma efetiva a cidade, tendo em vista as dinâmicas do entorno.

etapa 03

Partindo do pressuposto que a cidade precisa desse espaço, que há quase 80 anos é privado, existem ações que podem ser realizadas com o decorrer dos anos e outras que são imediatas e indispensáveis, sendo divididas em ações de longo, médio e curto prazo. Mais a longo prazo, devido a proximidade do complexo com relação às estações Hebraica-Rebouças e Cidade Jardim da Linha 9 – Esmeralda da CPTM e a estação Butantã da Linha 4 – Amarela do Metrô, o grupo propõe, dentre outras intervenções, a ligação de forma concreta entre as estações da CPTM e o espaço do Jockey. Já a médio prazo, com base no Plano Diretor Estratégico – desenvolvido e aprovado durante a gestão de Fernando Haddad, em 2014 -, o grupo, optou por manter os zoneamentos propostos pelo Plano Diretor Estratégico, exceto na área da Rua Doutor José Augusto de Queiroz, onde o grupo acredita ser mais pertinente a consolidação de uma Zona Mista (ZM). Finalmente, a curto prazo, o grupo acredita que, para integrar de forma concreta o espaço do Jockey à cidade – para além de outras intervenções que serão desenvolvidas ao longo da próxima etapa do trabalho -, deve-se derrubar os muros do complexo, de forma a dar livre acesso aos cidadãos a este espaço e garantir, enfim, o direto à cidade.

Em conclusão, mostrou-se importante o eixo de pesquisa em relação a devolutiva desse espaço para cidade como área verde natural. A partir do momento em que as outras intervenções escolhidas são simplórias inicia-se então a fase final onde o grupo procura se debruçar sobre as questões paisagísticas deste terreno, com o objetivo de oferecer para cidade um equilíbio digno da localização e tamanho deste espaço.

etapa 04

Na etapa final o trabalho se lança cerca de 150 anos à frente num imaginário de cidade que o próprio projeto incentiva existir. Para apresentação final o grupo decidiu apresentar todas as informações levantadas em uma única prancha síntese e lúdica que demonstrasse de forma leve toda a complexidade do espaço imaginado. A prancha de 2 metros apresenta as questões de forma jornalística como no texto a seguir:

No domingo passado (27) foi inaugurado, no antigo Hipódromo do Clube Jockey Paulista um complexo ambiental público que visa romper com uma das barreiras de proporções tectônicas constituídas em nosso território desde quase um século atrás. O que começou como um pequeno grupo de estudantes do curso de arquitetura junto à associação de moradores local se converteu em um movimento amplamente defendido pela população paulistana em pró de uma cidade sustentável, ambientalmente correta, socialmente justa e economicamente viável.

O projeto final contou com a participação de uma equipe interdisciplinar incluindo urbanistas, geólogos, cientistas sociais e claro, a associação de moradores dos bairros circundantes ao projeto. De início, foi considerado o patrimônio construído pelo clube, estudando possíveis apropriações para as construções, estando elas ligadas ou não mais ao uso equestre. O Jockey Clube, que sofreu duras acusações durante o processo de condenação do Hipismo como um todo, agora oferece suas infra estruturas equestres para um fim educacional em relação ao animal.

Além de visitas guiadas ao hospital veterinário e às cocheiras de cuidados, são praticados cursos de equitação adaptada e equitoterapia. As demais cocheiras e residências dos jockeys são teto de oficinas de arte públicas e residências artísticas para artistas estrangeiros. Para além dos programas ligados ao cavalo, o clube esbanja de quadras poliesportivas que oferecem aulas grátis de diversos esportes para qualquer interessado, bastando inscrever-se na recepção. Para os mais extremos, o parque conta com um complexo de esportes radicais, oferecendo diversas pistas de skate, além de uma pista de bike e motocross.

As antigas dependências sociais do Hipódromo agora abrigam, além de cafés e restaurantes (atendendo à diversos públicos) um cinema à céu aberto, utilizando uma das arquibancadas dos espectadores. O antigo Tattersall, onde cavalos milionários eram vendidos em minutos até três décadas atrás, agora abriga um mercado de hortaliças da primeira horta comunitária do bairro Cidade Jardim, logo atrás ao edifício.

Para além do construído apropriado, o partido inicial era a de reconstituição do ecossistema de várzea para o amortecimento dos efeitos das mudanças climáticas em nossa cidade. As áreas úmidas construídas pretendem não só neutralizar as consequências das fortes chuvas de São Paulo enquanto devolve ao sistema água limpa. Permeando tudo isso o sistema por si só é “eco” uma vez que funciona por meio de vegetação e fitodepuração, restituindo a região de sua flora e posteriormente, sua fauna nativa.

Ademais, o projeto se difundiu nos últimos anos como uma esperança de regeneração do tecido urbano e social uma vez que visa, em uma larga escala de tempo, catalisar a reconexão da malha verde de São Paulo, gerando áreas de lazer e cultura e, quem sabe, alterando os rumos do desenvolvimento da nossa cidade.