G19_crianças ocupam_Ocupação 9 de Julho

Introdução

Neste semestre na disciplina de Estúdio Vertical da escola da cidade, optamos pela vertente ocupar com educação, e para a realização do trabalho escolhemos a Ocupação 9 de Julho como espaço, pela sua aproximação com a escola e também pela viabilidade de exercer projetos participativos no local. Desde o início visavamos a realização de um trabalho que envolvesse prática e tínhamos também o interesse de entender a visão das crianças que moram na ocupação. Refletimos sobre a nossa posição quanto ao contato e aproximação com as crianças da ocupação, e concluímos necessário uma primeira fase de análise/aproximação que não envolva uma imposição do projeto como arquitetas, com isso recorremos para outros estudos como a psicologia e a pedagogia. Nas fontes como Piaget, Madalena Freire e Mayumi Souza Lima percebemos a importancia de compreender as percepções das crianças em relação ao espaço, a partir de uma linguagem presente no cotidiano das crianças.
O objetivo foi entender a visão das crianças em relação ao espaço da ocupação, para compreendermos isto, procuramos primeiramente investigar o espaço e entender o como as crianças brincam e utilizam este. Em seguida para continuar a fase análitica, nos unimos com a fundação Flor da Vida, e participamos durante o mês de outubro de 2018 das atividade que ocorrem às quintas-feiras de tarde na brinquedoteca (espaço dentro da ocupação destinado para a realização de atividades para as crianças com brinquedos e livros), preparando as atividades em conjunto a Raquel (voluntária desde o início do ano na Ocupação).
A partir de nossas vivências com as crianças neste semestre, chegamos como objetivo final, propor aparatos para o espaço que sejam destinados ao brincar das crianças e que façam parte do cotidiano de suas brincadeiras e outras atividades, a ideia consiste em objetos que possam ser retirados e complementados ao espaço e que não interfiram no andamento da ocupação.

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No decorrer do semestre tivemos dois diferentes processos de análise, o primeiro se tratava da observação; realizamos visitas ao espaço buscando compreender o como as crianças se apropriam deste e os seus usos, e ao longo destas primeiras vivências tivemos contato com a Associação Flor da Vida que realizam atividades com as crianças da ocupação, todas as quintas-feiras desde o início de 2018, estas atividades ocorrem a partir de um grupo de voluntários que formulam dinâmicas e brincadeiras para as crianças. Com este contato tivemos a possibilidade de durante o mês de outubro/2018 realizar a nossa segunda etapa de análise que envolvia um contato direto com as crianças, pensando que para entendermos o como as crianças veem o espaço, seria necessário uma interação com elas a partir de uma linguagem que seja comum entre as elas, que no caso foi o brincar.

Decidimos então recorrer às nossas fontes pedagógicas e seguimos o caminho da educação não formal – consiste de um aprendizado a partir da vivência e interação – para preparar uma atividade para as crianças em conjunto a Raquel (voluntária em conjunto a associação flor da vida), primeiro tivemos a oportunidade de participar das atividades já prontas, para termos um primeiro contato com as crianças, e no final do mês de outubro nós realizamos a atividade que preparamos, que tinha como objetivo o entendimento das crianças em relação aos espaços que mais utilizam na ocupação.  Mesmo concluindo que nossa análise prática não cumpriu todos os seus objetivos, sentimos que pelas nossas vivências e percepções sobre as crianças, os espaços e em conjunto com as nossas pesquisas e fontes como Mayumi Souza Lima, conseguiríamos propor uma intervenção final para o espaço.

Entendemos a fala de Mayumi em seu livro “a criança e a cidade” sobre os espaços não serem pensados considerando a visão e a interação das crianças no espaço, no próprio âmbito da ocupação. “a apropriação de um espaço pela criança supõe a possibilidade de que ela venha a colocar suas marcas, alterá-la de alguma forma — por exemplo, pelo desenho ou pela cor –, estimulo primário para os seus exercícios de transformação do seu mundo” – Concluímos que o espaço externo da ocupação 9 de julho, que consiste de uma quadra e outras duas salas ao céu aberto são espaços atrativos para as crianças, já que possibilitam uma interação coletiva e a execução de vários jogos e brincadeiras, tornando o local como favorito das crianças.

Para o nosso produto final, passamos pelo desafio de unir todas as fases anteriores do trabalho, com o objetivo de que o produto final retrata o que foi todo esse processo de análise e vivência. A partir das atividades percebemos o como o espaço da brinquedoteca (local onde ocorrem as atividades de quintas-feiras) desperta as sensações de carinho, conforto, alegria nas crianças e também o como este lugar traz características de um local que é destinado as crianças, em contrapartida também analisamos as relações com o espaço externo que agrega a quadra, e o como é um espaço de divertimento mais que não trás as características de um espaço de brincar, nele as crianças não têm aparatos do brincar, todos os jogos surgem a partir do imaginário e da criatividade.

Em nossas análises chegamos em algumas conclusões sobre a interação das crianças nos espaços, percebemos o como a coletividade é algo muito presente e forte entre eles, a utilização do imaginário para se criar novas situações e brincadeiras, a agilidade corporal cativante e a abertura e interesse para coisas novas e diferentes. A partir destas conclusões que formulamos a nossa intervenção final, nela pensamos que queríamos trazer incentivos a estas características destacadas e fazer com que o espaço tenha a possibilidade de ser dinâmico, no quesito da nossa intervenção não atrapalhar o andamento das atividades da ocupação, mais que ao mesmo tempo que o espaço remeta as crianças.

Por fim projetamos a nossa intervenção com a tentativa de se ater ao processo de formulação desta, que consiste na formulação de um “jogo” no espaço aberto, nele pensamos em realizar um grid no piso e incluir brincadeiras dentro deste desenho. Como forma de complementar o espaço e despertar as características destacadas das crianças, projetamos um módulo similar a um cubo, onde as vedações são variadas, a ideia é que este módulo funcione como um “lego”, onde as crianças poderão usufruir deste para suas brincadeiras.  Nossa intervenção só é percebida no espaço a partir do desenho no piso, que se inicia desde a entrada do espaço, funcionando como um “convite” para todos. A simplicidade do projeto consiste na ideia de ativar o imaginário das crianças, servindo como um aparato do brincar, não é um brinquedo que dá todas as suas respostas, mas sim um brinquedo que tem que ser descoberto a partir de todas as suas possibilidades.