G33 _Cidade Não Visual

um audioguia pelo centro de São Paulo

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O Audioguia A Cidade Não Visual, um audioguia pelo centro de São Paulo propõe um passeio pelo centro novo de São Paulo a partir da perspectiva afetiva de 5 estudantes de Arquitetura e Urbanismo da Escola da Cidade e com um direcionamento específico para pessoas com deficiência visual.

A ideia é de tensionar a percepção e experiência com a cidade, mirando subverter algumas das lógicas impostas pelo ritmo funcional e frenético das grandes metrópoles, entendendo os espaços de forma não visual, mas sim, experimental e sensorial. Dessa forma, o audioguia se torna interessante também para pessoas sem deficiência visual.

O percurso acontece predominantemente na área onde foi implantado o projeto de calçadões do centro, nos anos 70, no qual o pedestre tem preferência na ocupação da rua, dividindo-a com o comércio e o mobiliário urbano.

A duração do passeio é de mais ou menos 60 minutos, tendo seu início na Praça da República e terminando na Praça Dom José de Barros, na Biblioteca Mário de Andrade. O Audioguia está disponibilizado através do QR Code abaixo, que possui um redirecionamento à nossa playlist no Soundcloud. É possível realizar um download dos áudios, ou escutar-los online.

O presente trabalho teve seu início no segundo semestre de 2018, integrando as pesquisas do eixo Ocupa SP, com uma investigação acerca da presença do tato na cidade, culminando em um estudo sobre a vivência das pessoas com deficiência visual na mesma. Para isso, entramos em contato com a Fundação Dorina Nowill para Cegos, onde pudemos trabalhar diretamente com o grupo de voluntários, realizando com eles alguns encontros no sentido de provocar uma discussão e aproximação do tema. A proposta para esse semestre, no tema Ainda o Direito à Cidade? foi a de aprofundar esse estudo de uma forma mais prática, que resultasse em um produto que pudesse servir ao grupo de voluntários e, a outras pessoas portadoras de deficiência visual.

Entendemos ao longo do processo que para chegar a um produto legítimo, que fizesse sentido e fosse de interesse a esse grupo, teríamos que realizar uma aproximação mais pessoal e direta com os voluntários, de modo a conhecê-los de fato, participando de suas experiências na cidade, identificando seus desafios e potencialidades.

Para isso, propusemos três encontros ao longo do semestre: o primeiro, uma dinâmica na própria Fundação Dorina; o segundo, uma visita à exposição Sopro, de Ernesto Neto, na Pinacoteca e o terceiro, um passeio sonoro guiado pelo bairro do Bom Retiro, produzido pela Casa do Povo.

O primeiro encontro foi uma dinâmica que nomeamos de Inversão. Nela, propusemos que os voluntários nos vendessem e nos mostrassem as dependências da Fundação Dorina, causando um estranhamento e uma subversão da lógica com a qual, geralmente, as pessoas com deficiência se relacionam com as pessoas sem deficiência; deixando o controle e autonomia totalmente com os voluntários.

Já no segundo encontro, nos sentimos preparadas para de fato enfrentar o espaço público com os voluntários. Realizamos o percurso de metrô desde a estação Santa Cruz até a estação da Luz, até chegarmos a pé na Pinacoteca. O percurso por si só já se mostrou uma grande experiência, uma vez que pudemos experimentar na prática as dificuldades enfrentadas pelas pessoas com deficiência visual na cidade: pisos táteis de má qualidade, isso quando presentes, o despreparo da sociedade para lidar com essas pessoas, os grandes desníveis e buracos nas calçadas, a falta de semáforos com acessibilidade, entre outras questões.

A ideia de visitar a Pinacoteca ocorreu especificamente em função da exposição de Ernesto Neto, Sopro, que possui uma temática sinestésica, propondo diversas estações aguçam os sentidos de diferentes formas. Idealmente, pensamos que a exposição seria compreendida em sua totalidade pelos voluntários, uma vez que, não possuía um enfoque predominantemente no sentido da visão. Em todo caso, percebemos que tanto a Pinacoteca, quanto a exposição, não haviam sido pensadas para deficientes visuais, e, por isso, a experiência dos mesmos, muitas vezes, sofreu algumas interferências, seja pela dificuldade dos mediadores com um grupo de pessoas cegas, seja pela não interatividade total dos dispositivos pertencentes à exposição.

No terceiro e último encontro, tivemos a ideia de fazer o passeio sonoro guiado pelo bairro do Bom Retiro, realizado pela Casa do Povo. Fora justamente neste último encontro que entendemos, de fato, o que seria um produto com grande significado para os voluntários. O audioguia da Casa do Povo funciona de uma forma extremamente didática: com indicações precisas acerca dos locais visitados. O percurso propõe um passeio por lugares não convencionais do Bom Retiro, apresentando jóias escondidas da gastronomia, uma vila operária esquecida, lojas judaicas, entre outros. Além disso, são entrevistados diversos moradores da região, que contam suas memórias afetivas para com aquele lugar, tornando tudo mais pessoal, mais íntimo.

O passeio foi extremamente instigante e elogiado pelos voluntários, que nos trouxeram um fato de grande importância: às pessoas com deficiência visual não são capazes de enxergar os usos que a cidade propõe; dessa forma, se torna muito difícil conhecer novos lugares, limitando sua vivência sempre aos mesmos locais. Nesse sentido, o audioguia serviu como um ampliador da experiência dos voluntários que, se só estivessem de passagem pelo Bom Retiro, muito dificilmente teriam identificado os locais visitados, tendo estes, provavelmente passados despercebidos.

Os voluntários então, expressaram uma grande desejo de que houvesse algo do tipo sobre a região do centro de São Paulo, da qual possuem enorme interesse. Foi dessa maneira então que demos início ao processo de produção do Audioguia A Cidade Não Visual, um audioguia pelo centro de São Paulo, a partir das nossas vivências como estudantes de arquitetura nesse local.

03_passeio Bom Retiro

Durante o desenvolvimento do projeto ao longo do semestre acabamos nos deparando com diversos tipos de integração dos voluntários com a cidade a partir de atividades propostas por nós. Essa última atividades com o grupo de voluntários do Dorina foi a realização do audioguia pelo bairro do Bom Retiro desenvolvido pela Casa do Povo. O audioguia desbravou as histórias, lojas antigas, antigas vilas operárias e lugares escondidos no bairro contando histórias de frequentadores,, comerciantes e moradores da região.

Assim nasceu a ideia do produto final de apresentação do audioguia que mostrasse e descrevesse a cidade de um maneira não visual localizando espaços de lazer no centro-novo da cidade, iniciando no metrô República e terminando na Biblioteca Mário de Andrade permeando o centro entre galerias, ruas históricas e esconderijos. Com objetivo de explorar essa outra camada da cidade, possibilitado uma nova percepção dos espaços do centro, com uma experiência menos mecânica e funcional da cidade, compartilhando algumas vivências afetivas do cotidiano de cinco estudantes de arquitetura.

02_exposição Pinacoteca

A pesquisa da disciplina de Estúdio Vertical cria muito mais que apenas o debate em torno do pertencimento e o direito à cidade e sim a reflexão de como os grupos sociais e políticos  – de diversos carácter – interagem e participam do meio. A escolha para a pesquisa surge a partir deste entendimento, e que para isso nasce o interesse do estudo de deficientes visuais e o espaço, a partir da concepção do ideal da percepção da cidade como referência o tato. Além de pensarmos a cidade de maneira excludente proporcionamos a pesquisa de como esta conjuntura de valores – de um ideário de cidade totalmente apresentado e feito para videntes – gera ambiência de exclusão de diversas pessoas diariamente.

Assim por meio destas problemática e percepções de debate vimos como possibilidade o trabalho em conjunto com a conhecida Fundação Dorina Nowill – local de assistências para pessoas com a deficiência. A partir de encontros do grupo e entendimentos das propositivas do projeto entendemos que desta maneira não poderiam atuar e apresentar soluções eficientes para as problemáticas enfrentadas pelos voluntários da Fundação sem diretamente o convívio com os mesmos.

Para estimular esta integração procuramos a possibilidade de criar um plano de oficinas lúdicas de interação e experiências novas com o espaço/corpo. A primeira oficina proposta foi na própria sede da Fundação ao qual propusemos uma troca de experiências entre nós – videntes – e os voluntários – deficientes. Assim eles poderiam apresentar o espaço da Dorina por meio de suas afinidades sentimentais ou direcionais com o espaço – e nós com vendas nos olhos – para entendermos o espaço sem antes o ver visualmente e sim a partir da sensibilidade de o abranger de diversos outros meios, como a audição e tato – principais sentidos para a locomoção na cidade pelos voluntários. Essas experiências nos trouxe um maior entendimento do espaço e das relações afetivas ale presentes.

Para a segunda oficina, propusemos a visitação na exposição do artista Ernesto Neto, com a exposição SOPRO, localizada na Pinacoteca de São Paulo,  ao qual remete muito as nossas propostas do semestre passado. A exposição já apresentava um debate de maior interação do objeto com o público ponto elementar para a proposta da visita de tal exposição. Apesar de tudo acabamos caindo em debates muito maiores que esperávamos, sobre a questão de locomoção na cidade e assim como os espaços de cultura, que deviam se disser abertos a diversos públicos e grupos sociais, não estava preparado para o recebimento de deficientes visuais –  com a cidade em um todo. Percebemos que na verdade o que foi mais enriquecedor ao longo do caminho foi a união do grupo e a possibilidade de fazer atividades coletivas e não a exposição em si, e vimos de forma mais explícita como o os problemas de falta de acessibilidade na cidade afetam os deficientes diariamente.

01_grupo de voluntários

O trabalho proposto pelo grupo 33 dá continuação à uma pesquisa já desenvolvida durante o Estúdio Vertical do semestre passado (2.2018) acerca das discussões as conexões do tato no meio urbano e as suas respectivas dificuldades durante a vivência na cidade.

Criando desta maneira conexões com deficientes visuais e outros grupos menos favorecidos no layer urbano. No último semestre o grupo chegou a conclusão da necessidade de trazer o pertencimento de tais grupos ao ativismo cotidiano propondo e reforçando a necessidade de integração.

Para isso entramos em contato com as instituições LARAMARA e Fundação Dorina Nowill para Cegos como tentativa de aproximar os debates com os nossos estudos acadêmicos. No semestre passado tais contatos acabaram levando o grupo a entender a ideia de pertencimento a partir de um ideal tátil na cidade propondo desta maneira intervenções acerca do entender do tato.

A materialidade é algo primordial para o sentido mais longo do corpo humano, muitas das vezes o primeiro a passar despercebido. A ideia saiu em parte de uma convivência aberta em locais pertos de metrô (maior acessibilidade). Próximo à Avenida Paulista, avenida que se diz mais acessível da cidade de São Paulo.