G36_a caminhante marginal

g36_Beatriz Sallowicz, Gabrielli Motta, Laura Valdivieso e Mariana Caldas

BANCA 1:

A partir do tema proposto, ocupar São Paulo, pensamos etimologicamente a palavra ocupação, seus significados e suas formas – estática ou dinâmica.

A forma dinâmica, implica nos fatores: distância, tempo, indivíduo e meio, que determinará a escala. Baseado nessas questões, o deslocamento pode ser definido em dois tipos, automatizado ou reflexivo.

Ocupar através do caminhar

Questionamos o ato de caminhar como uma forma de ocupação da cidade e entendemos que o próprio ato, passou de uma tradição ou forma única de a partir dos primórdios das civilizações, era a forma de desbravamento de novos territórios. Na contemporaneidade, o caminhar é alienante, por conta do automatismo e da velocidade que a cidade impõe ao transeunte. Entende-se então a necessidade de pensar sobre um novo tipo de caminhante, a partir de estudos de referencias de artistas como Richard Long, Francis Allys e Marcius Galan, que utilizam da caminhada como meio de estudos de fazeres artisticos e propoem uma nova percepção sobre esse ato. Além disso, Robert Smithson, faz uma importante referencia sobre os fenômenos que acontecem em cidades em desenvolvimento, que, por recorrência dos processos de construção, criam espaços residuais que, segunda a leitura do artista, pode ser levado a condição de monumento. Portanto, percebemos que esses fenômenos de crescimento e espaços residuais podem ser um contexto de proposição para um percurso. Estabelecemos como primeiro objeto de estudo o eixo estruturante planejado da marginal pinheiros, que forma esse percurso primordiamente rodoviarista e com uma certa velocidade, que nega a escala do pedestre e tem uma escala intermediária, do ciclista, que também não é cotidianamente utilizada. A partir do momento que vemos os lugares abandonados elevados a categoria de monumentos e espaços possiveis de ocupação. A leitura desse percurso promove uma ideia de eixo monumental, e é essa a questão que pretendemos abordar com este trabalho.

link para a apresentação: EV2018S02_G36_E1

BANCA 2:

Texto Manifesto
A Caminhante Marginal

A figura do caminhante marginal surge da reflexão de um agente crítico do espaço em que está inserido, consciente das múltiplas possibilidades intrínsecas a seu desenvolvimento urbano.

Julgamos o ato de caminhar como uma forma de ocupação da cidade e entendemos que a potência de tal ação contribui com consolidação de um posicionamento questionador. O ocupar passa a ser o próprio percurso atento e logo, é compreendido como metodologia de análise.

Ao retomar a tradição do caminhar como formador de cultura, buscamos as andanças peregrinas sob sua condição de enfatizar e atribuir importância ao que se deseja rememorar. Em contraposição, aproximamos a ideia de um caminhar passivo, fruto de uma dinâmica automatizada, fomentada pelas operações advindas de um novo tempo e ritmo da cidade.

É a partir disso que entendemos o caminhar contemporâneo como ferramenta capaz de revelar as premissas estruturantes de uma metrópole e suas imprevisibilidades.

Como em “Um passeio pelos monumentos de Passaic, Nova Jersey” (1967) Robert Smithson nos alertou sobre a condição da desagregação da cidade contemporânea e as consequências de seu crescimento descontrolado feito à revelia da paisagem. Lemos tal fenômeno como criador de realidades facilmente observáveis e puramente pautadas em estéticas pouco emocionantes.

O desenvolvimento é feito por reflexo de necessidades que pressupõem a autodestruição e renovação. Sua grande originalidade está em abandonar o que não funciona (KOOLHAAS, 1995, Generic City) e portanto, segundo o autor norte americano, imagina-se uma cidade em que as construções em processo já atinjam seu estado de ruína, antes mesmo de serem concluídas.

Tomamos o eixo Marginal Pinheiros como espaço onde tal dinâmica opera e que ao mesmo tempo lhe confere identidade. Isso se revela através de um imaginário registrado que em sua maior extensão, é rarefeito.

O percurso traçado, uma vez pelo leito do Rio Pinheiros e hoje, retificado e replicado paralelamente a suprir a eficiência infraestrutural, soma-se com uma sequência construída frequentemente ostentosa e indistinta a escala do pedestre. De modo em que cada momento concreto, afasta-se dos demais para criar um transe estético (KOOLHAAS, 1995).  

Inserido intencionalmente nesse cenário, o caminhante marginal identifica, à primeira vista, um roteiro cotidiano anômico. Seu percurso caminhado, portanto, propõe a valoração do roteiro a decifrar, daquilo que está inserido na composição do espaço, mas que dificilmente é assimilado: os destroços, as sobras, os espaços estranhos e residuais de um esboço de cidade que não se certifica de suas implicações. Atribuir a noção de monumento é exercício que parte de um entendimento conferido por Smithson (1967), de que as situações ali presentes crescem até o estado de ruína conforme são construídas.

O eixo estrutural agora é eixo monumental. E o percurso marginal é oposição por excelência.

 

link para a apresentação: https://docs.google.com/presentation/d/19oejt_by5dgKyG2zxHUZBUiUemW8s6IMc9hVZw4cIww/edit?usp=sharing

link para o mapeamento de memória registrada: https://drive.google.com/file/d/1qg1YJMJyx4ncqvVuSX2KhAnosOx44-It/view?usp=sharing

BANCA 3:

Após a estruturação do texto manifesto, fomos a campo para fazer o levantamento das ruínas pelo percurso estabelecido.

A primeira aproximação foi barrada pois não é possível acessar a ciclovia da marginal sem uma bicicleta, é estritamente proibido circular a pé.

Alugamos bicicletas e começamos o percurso, dividindo em 3 dias os trajetos delimitados em nosso mapeamento de 20km.

No trajeto foi possível visualizar 3 tipos de elementos, que separamos em:
– comunicação visual regulamentada
– evidências de agentes
– ruínas

A partir disso estabelecemos os próximos passos do trabalho e os produtos para o encaminhamento final.

Nomeamos, a partir das fotos as ruínas, a ideia é brincar com a anomia, e registrar através de vídeo e fotografias essas sobras / ruínas que elevaremos a condição de monumentos.

Desenhamos etiquetas que servirão para que as pessoas que frequentam ou queiram frequentar esse trajeto possam scaniar o código qrcode e acessar o site para ter acesso ao mapa e maiores informações sobre a proposta do trabalho.

Os produtos finais estabelecidos até o momento são:

  • Site / plataforma digital onde será possível acessar todas as informações e a proposta.
  • Desenho dos elementos de comunicação regulamentada e evidencia dos agentes.
  • As etiquetas, que transformam esse objeto sem nome em um monumento nomeado.
  • Vídeo de registro sobre essa aproximação.
  • Guia, em formato de mapa turístico com as imagens das ruínas e o mapa com a localização das mesmas.

layout das etiquetas

primeiro layout do guia – frente

primeiro layout do guia – verso

link para a apresentação: 
https://drive.google.com/open?id=1nOyoy6ZXoNrlateUSlAZF2cXAz6_uLn6

BANCA FINAL:

À parte das diversas vivências que se pode experienciar de um espaço, o conceito de imaginário registrado faz menção a todo arcabouço construído passivo de entendimento como marco de referência e atribuição de reconhecimento ao local.
De fato, se nos colocarmos o exercício de descrever o eixo da Marginal Pinheiros de memória, algumas edificações, viadutos e pontes serão mínimo múltiplo comum por representarem pontos que sublimam sua localização material e consolidam-se como símbolos que funcionam de forma autônoma à necessidade de sua total compreensão. Por permitir rápida leitura de presença marcante, o imaginário registrado forma-se dentro e a partir de um código cifrado e por isso registrado conota justamente essa camada de cidade construída, datada, identificável.
A caminhante marginal contrasta sobras e resíduos destituídos de função e em casos, irreconhecíveis, revelando a própria noção de cidade incutida nessas peças. A criação de um roteiro marginal, que expõe o lado não verificado do espaço elevando-o à condição de monumento, joga com valores preestabelecidos e questiona criticamente a ocupação desse espaço.

publicação monumentos marginais

mapa anexo

Os produtos finais estão disponíveis no site do projeto: https://ocuparsp.wixsite.com/caminhantemarginal

Link para a apresentação: https://docs.google.com/presentation/d/16R5lwF2sNJsDc12TSwNUqW43VsxCASm2Vcn16J4OL2M/edit?usp=sharing