G01 | JAPURÁ: o patrimônio habitado

G01: Alexandre Makhoul, Beatriz Dias, Inaê Negrão, Marina Schiesari e Stella Bloise

 

ETAPA 01

O edifício Dr. Armando Arruda Pereira – mais conhecido como “Japurá” – do arquiteto Eduardo Kneese de Mello  é um edifício tombado considerado a primeira aplicação no Brasil dos conceitos corbusianos para a habitação coletiva no pós guerra.

Construído no terreno ocupado pelos maiores cortiços do Bixiga (Navio Parado), desde sua inauguração em 1957 o edifício passou por muitos momentos. Inicialmente abrigou famílias de industriários, beneficiados pelo sistema de IAPIs, mas passou por períodos de extrema decadência e degradação algumas décadas depois. Com o recente movimento de “reocupar” o centro,  o condomínio tem se tornado cada vez mais procurado por seus mais de 200 apartamentos duplex de 70m2, garagem, portaria 24h e excelentes serviços de manutenção.

Fica a inquietação: como um edifício projetado em 1947 continua relevante seis décadas depois? Como unidades  idênticas abrigam casais com filhos,universitários , artistas e idosos? E mais importante, como garantir que continue relevante no  futuro,  tendo em vista que é patrimônio tombado?

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Como tentativa de entender os contextos nos quais o edifício se insere desde sua criação até atualmente, desenvolveu se na primeira etapa do estúdio vertical uma linha do tempo relacionando  tanto os aspectos urbanos do centro de São Paulo quanto as politicas mundiais.

nascimento (1ªmetade séc.xx)

.o centro foi o foco do processo de verticalização e renovação urbana
.habitação como investimento
.pólo cultural e econômico
.aumento populacional (imigração, migração, urbanização)
.o edifício propunha uma ideia de cidade

queda (2ªmetade séc.xx – 1970 a 1990)

.processo de esvaziamento do centro da cidade, sucateamento de equipamentos, mudança de centro financeiro
.o edifício reflete a dinâmica da cidade e nos modos de morar
.como a cidade construiu/desconstruiu a habitação?

novas possibilidades (déc.1990 até atualidade)

.iniciativas públicas e publico-privadas de “reocupação” e “revitalização” do centro
.reestabelecer o caráter de pólo cultural e econômico
.novos empreendimentos habitacionais e culturais/de lazer
.quem é o morador/usuário que está sendo atraído? Quais são seus novos modos de morar?

reinvenção (futuro)

.como o edifício pode deixar de refletir o passado decadente do centro?
.como o edifício já reflete os novos modos de morar e os novos moradores da região?
.como assegurar a existência do edifício de modo integrado à cidade?

 

ETAPA 2 

CONSTRUIR A MEMÓRIA DO JAPURÁ 2018

A partir de estudos do contexto político, socioeconômico e espacial do edifício, principalmente dos processos de transformação, o grupo compreendeu a importância do registro antes de grandes mudanças e a construção de uma memória coletiva do Japurá. Para materializar tal, experimentou-se os seguintes formatos de representação: fotos, imagens, vídeos e entrevistas.

Para a realização das entrevistas e na busca de aproximar os moradores da pesquisa, o grupo resolveu se apropriar da linguagem de zine por meio de uma narrativa “não-arquitetônico” contextualizando o morador a história e aos aspectos originais do projeto. Além disso, para organização do material coletado das entrevistas, desenvolvemos uma ficha padrão para registrar a faceta privada e “inacessível” da história do Japurá – até então nunca registrada – com foco ás materialidade, alterações espaciais, paleta de cores e texturas de cada apartamento.

A partir da exploração de formas de registrar a relação morador-espaço em suas inúmeras escalas, desde a domesticidade (apropriações) a urbanidade (monumentalidade arquitetônica) criamos um breve vídeo investigativo. Com a mesma intenção, encontramos na fotografia, no desenho e na gravação de áudio maior facilidade de aproximação com o morador e sua privacidade.

Com esta coleta de informações, buscamos ativar a discussão do futuro incerto do Japurá, análogo ao processo pelo qual o centro está passando, de transformação e instabilidade.

 

video investigativo: https://www.youtube.com/watch?v=VuQsPW_6KS8&feature=youtu.be

 

poster contida na zine1 explicando o japurá projetado pelo kneese

 

 

ETAPA 3

exposição no japurá

DE DENTRO PARA DENTRO

Tratando-se de um edifício histórico tombado, uma análise histórica torna-se parte indissociável do Japurá. É necessário, contudo, reconhecer as diversas escalas que permeiam este objeto- a cidade, o edifício e as unidades- e os diversos tempos a que ele pertence ou pertencerá- passado, presente e futuro.

A primeira etapa de trabalho, então, foi o entendimento de que cidade era a São Paulo dos anos 40 e quais as diretrizes pensadas à época para seu desenvolvimento. Em outra escala, cabe entender o edifício como projeto e que tipo de cidade ele propunha e, aproximando-se mais ainda, quem era o morador atendido pela tipologia de unidade proposta e que tipo de vida se imaginava para ele.

Além disso, cabe destacar o potencial deste estudo se diferenciar do que tem sido analisado sobre o edifício recentemente: a experiência cotidiana do morador. O fato de ser um estudo conduzido por uma moradora do condomínio proporciona uma aproximação mais fácil com os moradores e possibilita leituras mais aprofundadas do edifício e das dinâmicas de uso do espaço, tanto nas áreas comuns quanto nos espaços domésticos.

Para isso, o trabalho transitou entre diferentes frentes, realizadas, por vezes, de maneira simultânea:

  • Entrevistas com moradores e funcionários

Se conduziu entrevistas com moradores voluntários, com os seguintes objetivos:

  1. ter acesso aos diferentes layouts dos apartamentos e catalogar as alterações da planta original;
  2. obter uma amostragem dos tipos de morador e dos tipos de domesticidade;
  3. colher depoimentos sobre a história não-oficial do edifício, e registrar essa memória.

Para auxiliar nessa aproximação com os moradores das 288 unidades do edifício, foi produzida uma pequena publicação, uma zine de 8 páginas com uma primeira aproximação sobre a história do edifício e o projeto original. Essa publicação serviu como um cartão de visita do grupo, mostrando os objetivos do trabalho e dando um caráter mais oficial, com informações para contato com o grupo e um link para o site do Estúdio Vertical.

As entrevistas foram registradas por meio de fotografias, plantas e registros em áudio. Foram realizadas cinco entrevistas teste, e a partir delas, ficou claro que o questionário desenvolvido seria apenas um guia, já que o objetivo principal não é uma análise estatística ou quantitativa, e sim uma conversa informal na qual o morador é o protagonista.

  1. Elaboração de uma nova iconografia

Faz-se necessário atualizar as plantas e cortes que se tem do edifício, na mesma lógica de um as built mas, talvez, o termo mais preciso seja as occupied. Esses desenhos, além de ilustrarem as transformações e re-apropriações contemporâneas dos espaços projetados, servirão de base para outros estudos, como o uso cotidiano das áreas comuns pelos moradores e funcionários.

Partindo do entendimento que o patrimônio arquitetônico pertence à sociedade , e que a maior garantia para sua salvaguarda é o reconhecimento de seu valor por parte da população, faz-se necessário que este trabalho seja bem divulgado e possa dialogar com diversos públicos. Portanto, foi criada uma página no Instagram onde já estão sendo postados, periodicamente, desenhos, fotos e vídeos do edifício e que retratam o andamento da pesquisa.

Além desta estratégia digital, como produto da banca final do Estúdio Vertical do primeiro semestre de 2018, será criada uma base de divulgação do projeto na entrada do edifício. O local de implantação escolhido é o início do corredor de acesso principal, por onde todos os moradores que entrarem ou saírem a pé transitam. Lá, serão colocados os seguintes produtos:

  1. Uma maquete detalhada do edifício em escala 1:200, com o objetivo de chamar a atenção do transeunte e proporcionar a visualização do conjunto por inteiro (já que os prédios vizinhos bloqueiam essa vista);
  2. Uma maquete volumétrica de quatro unidades em escala 1:50, para esclarecer como acontece o encaixe complexo da volumetria dos apartamentos duplex. Essa maquete se assemelhará a um brinquedo, sendo desmontável e conectada por imãs;
  3. Um cartaz explicando brevemente o projeto e incitando a participação dos moradores;
  4. Alguns exemplares da zine produzida ;
  5. Alguns exemplares do segundo volume da zine, que contarão com plantas dos apartamentos já visitados e excertos das entrevistas, além de páginas ilustradas com fatos curiosos sobre a história do edifício e sua cultura interna;
  6. Um caderno onde os moradores interessados podem deixar seu email ou telefone para que entremos em contato.

Esse produto serve também como um teste da linguagem expositiva, pois seria interessante que, no final do segundo semestre, os resultados da pesquisa fossem apresentados aos moradores de uma forma mais dinâmica do que uma publicação impressa.