G08 – Garrafas lançadas ao mar

O presente trabalho é um TC-EV que teve como ponto de partida analisar suportes expositivos alternativos, que tenham como objetivo principal distender a noção de espaço expositivo e se somar a outros territórios de experimentações expandindo os circuitos de arte já existentes.

            A partir da leitura do texto “Como garrafas lançadas ao mar”, escrito pela pesquisadora da Universidade de Santa Catarina (UDESC) e curadora da plataforma digital parêntesis Regina Melim, se discute sobre trabalhos que não precisam, necessariamente, de paredes para serem exibidos pois podem estar contidos em suportes menos convencionais como: dentro de um livro, uma revista, em objetos cotidianos, em folhas avulsas ou em cartões postais.

                        “ A mobilidade e os desvios de suas trajetórias, talvez, sejam as suas mais intrigantes qualidades. São como garrafas lançadas ao mar, que qualquer pessoa pode encontrar ou receber, levar consigo e estender a sua duração, ativando-a e compartilhando-a em outros contextos. “

                                                                       (MELIM, Regina. Como garrafas lançadas ao mar)

            A característica marcante deste conceito é o predomínio da quantidade da criação sobre a qualidade, assim como a descentralização dos centros de produção e veiculação de arte. Manifestação esta, que só é possível devido a democratização dos meios de reprodução e produção e consequentemente a facilidade da transmissão. Fenomeno este, que foi discutido no artigo “ Arte do mundo ou arte de todo o mundo? Do sentido e do sem-sentido da globalização nas artes plásticas.” ( Robert Kudielka, 2003).   O artigo discorre sobre o processo da globalização no âmbito das artes plásticas, no abandono da ideia de “arte do mundo” mas como contrapartida uma “arte de todo o mundo” que só é  possível pela musealização da cultura fortalecida pela tecnologia da informação pautada nas possibilidades estéticas ligadas as relações culturais do que é próprio e distante.

                        “Com o aparecimento de outros meios, no contexto da arte, os mesmo da difusão de massa e com o seu uso simultâneo, destaca-se a importância de um substrato material aos signos; a reprodução gráfica, o livro, a foto, o filme, etc., caracterizam esta situação como intermedia. (…) faz que a condição mais importante seja a da comunicação; procurando seus autores dizer ao mundo o que pensam e de que forma estão inseridos nele, dentro de um projeto (utópico) de arte como liberdade, ou melhor libertária.”

                                                                       (PLAZA, Julio. Poéticas Visuais.1977)

A fim de analisar e possivelmente repensar suportes expositivos para realização de uma mostra em qualquer lugar, a qualquer hora e em diferentes contextos, porém trazendo o questionamento da arte como um todo e da permanente circulação e deslocamento/ampliação as funções do espectador deixando de ser uma testemunha imparcial e colocando-o em ação o grupo pretende agrupar uma série de suportes expositivos não convencionais desenvolvidos entre os anos de 1964 e 1985 e identificar as camadas ideológicas seguindo os parâmetros metodológicos da reflexão estética desenvolvida por Alfredo Bosi no livro “Reflexões sobre a arte”; o fazer,o conhecer e o exprimir.

            Fazer: “ sabes que o conceito de criação (poesis) é muito amplo, já que seguramente tudo aquilo que é causa de algo (seja o que for) passe do não ser ao ser é criação, de sorte que todas as atividades quer entram na esfera de todas as artes são criações; e os artesãos destas são criadores ou poetas (poités)”

Conceito de arte como produção técnica.

            Conhecer: “A arte está para o real, assim como o real está para a ideia, que, na metafisica de Platão, é a instancia absoluta. Arte: sombra de um reflexo.”

Conceito de arte como linguagem

            Exprimir: “ A grande dificuldade dessas leituras (que as torna logo suspeitas de mistificação e credita ao mero acaso os seus eventuais acertos) reside em uma característica estrutural presente em todos os códigos: a relação assimétrica entre o signo exterior e o sentido interno. Isto é: o número de elementos de um código ( o número de traços da escrita, de linhas da mão, de sons de uma língua) é sempre reduzido, ao passo que as mensagens que esses poucos elementos podem construir são infinitas.

Conceito de arte mutável; depende do contexto onde está inserido e do contexto em que o espectador está inserido.

ETAPA 02

Na segunda etapa do trabalho, foi do interesse do grupo procurar entender um pouco mais sobre exposições portáteis e quais objetivos tem em comum. A partir de uma pesquisa de referências de projetos de exposições portáteis desenvolvidos por artistas, curadores, coletivos culturais entre outros chegou-se a cinco pontos principais que guiaram o debate dessa etapa, sendo eles: fácil dispersão, fácil transporte, possível ativação da exposição em qualquer hora em qualquer lugar, sem um lugar fixo e a temporalidade.

Depois de discutir conceitualmente o modelo de exposição portátil e os seus principais pontos de partida o grupo optou por desenvolver uma exposição portátil, e a segunda etapa resume-se principalmente na produção e no desenvolvimento da mesma.

O projeto então leva o nome do texto redigido por Regina Melim “Como garrafas lançadas ao mar” porque é uma expressão que consegue sintetizar as vontades e objetivos por de trás do projeto de exposições portáteis de arte postal, como um tiro no escuro, algo que não temos certeza onde chegará e é isso que o torna mais interessante.