G19_Centro Cultural São Paulo: o audiovisual como ferramenta de apreensão do espaço

Grupo: Gabriel Brugnara  | Gabriela Duarte  | Gabrielli Motta |  Ingrid Colares | Stela Mori
Orientadora: Ligia Miranda

Etapa 1

“A fim de compreender a experiência humana, devemos largar os processos semicientíficos de medição e abraçar a coragem e o desejo de viver e abordar a arquitetura diretamente e por meio de nosso próprio ato de viver” (PALLASMAA, 2018)

Compreendendo a cidade como um macroespaço que clama por espaços representativos nos quais o povo tem o direito de apropriação, principalmente em São Paulo onde esses lugares são escassos, consideramos como caso de estudo um espaço de livre ocupação, fluidez de passagens e sem restrições. Assim, a partir do tema do EV 2019, “ainda o direito à cidade?”, abordaremos o Centro Cultural São Paulo, estudando seu caráter fenomenológico e de memória coletiva, e como essas características podem ser expressadas através do audiovisual.

A partir do contato com os vídeos de arquitetura dos coletivos Spirit of Space (https://spiritofspace.com/) e Building Pictures (http://www.buildingpictures.pt/), entre outras referências, juntamente uma discussão entre os integrantes do grupo, na qual levantamos o tema do cinema e da literatura fenomenológicos, surgiu o interesse pela filmagem de arquitetura e o caráter sensitivo que vídeos podem ter. Compreendemos que o audiovisual é uma ferramenta possível ideal para estudar como o espaço é experienciado, além de uma ferramenta acessível através do uso do celular.
Também nos respaldaremos nos estudos dos teóricos sobre arquitetura e fenomenologia como os arquitetos Merleau-Ponty e Juhani Pallasmaa. No livro ‘Essências” de Juhani Pallasmaa, o autor descreve a experiência multissensorial da arquitetura não só através dos sentidos, mas também através da percepção do tempo, da memória, imaginação e das dicotomias mental/físico, biológico/cultural, coletivo/individual e consciente/inconsciente.

Nossa proposta para essa etapa inicial seria uma primeira aproximação do Centro Cultural São Paulo através de um vídeo curto individual, no qual pudéssemos, de forma empírica, explorar uma visão pessoal e espontânea, sem roteiros. Ao longo do semestre pretendemos fazer visitas semanais ao CCSP, para obter uma vivência intensa e maior compreensão do espaço e assim obter material e idéias para desenvolver um roteiro e elaborar um produto ou produtos audiovisuais finais.

Também nos respaldaremos nos estudos dos teóricos sobre arquitetura e fenomenologia como os arquitetos Merleau-Ponty e Juhani Pallasmaa. No livro ‘Essências” de Juhani Pallasmaa, o autor descreve a experiência multissensorial da arquitetura não só através dos sentidos, mas também através da percepção do tempo, da memória, imaginação e das dicotomias mental/físico, biológico/cultural, coletivo/individual e consciente/inconsciente.

Nossa proposta para essa etapa inicial seria uma primeira aproximação do Centro Cultural São Paulo através de um vídeo curto individual, no qual pudéssemos, de forma empírica, explorar uma visão pessoal e espontânea, sem roteiros. Ao longo do semestre pretendemos fazer visitas semanais ao CCSP, para obter uma vivência intensa e maior compreensão do espaço e assim obter material e idéias para desenvolver um roteiro e elaborar um produto ou produtos audiovisuais finais.

Etapa 2

Quando a gente decidiu fazer um único foyer aqui, um único saguão, para as três salas, foi pensando que as pessoas se encontrassem. […] Porque tanto na saída como na entrada, quanto no intervalo, elas podem trocar ideias. […]e uma reunião de pessoas sempre tem uma questão política implícita. (TELLES, 2012)

Abordagem, representação e público: questões que circunscrevem a discussão sobre a produção audiovisual do presente trabalho, no caso sobre o CCSP. Representar o Centro Cultural São Paulo surgiu de um premissa de leitura sobre o caráter democrático do espaço seja pela arquitetura construída, seja pela gestão dos eventos pela instituição ou seja pela livre apropriação do espaço. No que diz respeito à arquitetura trata-se de um local de riqueza espacial com:

Permeabilidade, variedade de rotas, de entradas e saídas confere uma real liberdade de percurso dentro do edifício, o usuário transita por todos os espaços, atravessa as rampas e observa todo o Centro [Cultural] pela abertura que o projeto permite, tanto aberturas físicas de fato quanto aberturas visuais conferidas pelas paredes envidraçadas, tornando possível o encontro constante entre pessoas. (LERO LERO, 2019)


A característica de fluidez pode ser traduzida, então, como o aspecto projetual que reitera o caráter de espaço público que se pretende reproduzir. Essa discussão alude a questões sensoriais que o corpo sente para sentir um espaço convidativo e atrativo para os múltiplos e determinados usos que preenchem o CCSP. Traduzir as sensações que o projeto conjuntamente com a atual gestão do local geram na população para que se torne parte da memória coletiva o símbolo do ccsp como um espaço receptivo é aquilo que se busca – o argumento.

Nesta segunda etapa de desenvolvimento, nos aprofundamos nas discussões, nas pesquisas e nas visitas ao Centro Cultural São Paulo. Criamos um diagrama que nos ajudasse a colocar todas as ideias discutidas em um só lugar, e que nos ajudasse a decidir qual seria o formato e abordagem do vídeo. Também tivemos a oportunidade de visitar o Centro Cultural com o grupo Lero Lero da FAU USP, com o professor César Shundi e a professora Helena Ayoub, que participou da equipe do projeto nos anos 70 e tinha muito a contar sobre todo o processo de criação e construção do espaço.

Além disso fizemos reuniões semanais no próprio Centro Cultural para experienciar e vivenciar o local como grupo e dividir impressões. Em uma dessas visitas fizemos uma leitura do edifício como uma sobreposição de diversas “camadas” horizontais, sendo possível observar de qualquer ponto do centro cultural diversos níveis, e através dessa observação, realizamos o exercício de criar composições de faixas com horizontalidades do espaço para depois desenvolver um pequeno teste em vídeo.


Foto: Nelson Kon

Etapa 3

Para esta etapa nos propomos a desenhar um roteiro de filmagem através de um storyboard e da sinalização do posicionamento da câmera na planta, que nos guiará para as filmagens do vídeo a ser criado para a quarta e última etapa.

Decidimos as cenas a partir das discussões anteriores sobre o percurso e recorte do Centro Cultural, delimitando nossas filmagens quase integralmente nas áreas “não-programáticas” do térreo e da cobertura verde. Durante o vídeo, temos também a intenção de levantar o debate acerca do direito à cidade, através do artifício da revelação ocasional do tempo em que os usuários e funcionários que frequentam o CCSP levam para acessar um centro cultural com a qualidade e flexibilidade espacial e com o caráter acolhedor e acessível que esse espaço apresenta, tão único em São Paulo.




Etapa 4

Esta proposta parte de uma leitura sobre o Centro Cultural São Paulo como um espaço de caráter democrático significativo para a cidade e, portanto, importante para ser enaltecido principalmente em virtude da atual conjuntura política brasileira onde a democracia se tornou uma pauta recorrente devido ao medo de perde-la. Assim sendo, fazer ver na espacialidade do local o seu aspecto democrático significa aqui uma espécie de resistência, uma maneira de fazer ver uma dinâmica urbana com uma rica diversidade de usos e públicos. Dançar, ler, comer, encenar, jogar, plantar, trabalhar ou simplesmente não fazer nada; no Centro Cultural São Paulo existe uma ampla gama de usos que não fazem parte da programação institucionalizada e, por isso, configuram uma livre apropriação do espaço – uma não programação. Assim sendo, essas dinâmicas não oficiais dão ainda mais vazão para expressar o caráter democrático do local justamente por expor com maior ênfase a liberdade e a espontaneidade na apropriação do espaço e, por isso, elas foram escolhidas enquanto principal abordagem sobre o CCSP. É sabido que, por mais que o recorte seja sobre a livre apropriação do espaço, a instituição cumpre papel central na concessão dessas liberdades por meio da administração o que gera mais um motivo para enaltecer esses usos livres.

Compreendendo a localização do CCSP é de suma importância destacar que ele está localizado na região central de São Paulo e, assim, por mais que o espaço internamente tenha um destacável caráter democrático, a sua implantação não segue a mesma lógica. Isso ocorre devido à significativa concentração de equipamentos culturais no centro urbano e, portanto, as pessoas que moram na periferia não possuem o mesmo direito de acesso não só ao Centro Cultural São Paulo, mas aos equipamentos culturais como um todo – ao direito à cidade como um todo. Com o intuito de promover essas leituras, o trabalho se propõem a fazer uma produção audiovisual sobre o Centro Cultural São Paulo e as múltiplas discussões sobre o “tempo para estar” no CCSP como interpretações que oscilem entre o lazer e o deslocamento, entre o caráter democrático e o deficiente direito à cidade, ou seja, uma abordagem que aguce questões entre o sensorial e o urbano.

Seguindo nosso “roteiro em planta” produzimos as filmagens das cenas imaginadas ao longo de quatro dias distintos, com a intenção de equilibrar o cenário arquitetônico do Centro Cultural São Paulo e o freqüentador ou freqüentadores usufruindo do espaço. Em cada cena tentamos observar os seguintes fatores: no objeto em cena; no caráter da filmagem, em movimento ou fixa; no enquadramento; no som e na sensação que queríamos passar.  Também acrescentamos cenas novas em que vimos potencial no momento.  No último dia de filmagem encontramos dois dançarinos de break que vinham de Guararema até a Vergueiro, demorando cerca de duas horas e meia.  Conversamos com eles à respeito da dança urbana e como as pessoas adeptas à essa modalidade costumam usar a cidade como palco, não gostando, na maioria das vezes, de lugares institucionalizados ou burocráticos para ensaiar.  Compreendemos assim o sucesso do CCSP em receber tantos dançarinos, principalmente através de seu caráter urbano, da fluidez dos espaços e vidros reflexivos que funcionam como espelho.  

Após as filmagens iniciamos a pós-produção: a edição do vídeo e áudio, correção de cor, inserção de efeitos e criação dos créditos.  O resultado é um vídeo que tem dois objetivos principais. Um é representar o espaço e seus usuários de forma a documentar e enaltecer essa apropriação do uso do espaço do Centro Cultural São Paulo como prolongamento da cidade e do espaço público e assim enfatizar a questão do direito à cidade. O segundo é levantar um questionamento sobre esse direito não ser acessível da mesma forma para todos, devido à localização central desse equipamento cultural, distante em relação às periferias que carecem de espaços com a qualidade e fluidez do CCSP e, assim, notar que grande parte dos seus freqüentadores é formada por pessoas que não moram próximos à região central da cidade e demoram mais tempo e gastam mais em transporte para poder usufruir do Centro Cultural São Paulo.