G43_Cultura Paralela

bianca okamoto | gabriel dutra | gabriela fuganholi | lúmina kikuchi

Etapa 01

O tema do trabalho decorre do objetivo de compreender a cultura como um instrumento por meio do qual grupos sociais se manifestam reagindo ao processo de marginalização — tanto a cultural como a urbana — em que estão inseridos. Em resposta à questão norteadora do Estúdio Vertical de 2019, “Ainda o direito à cidade?”, questionamo-nos, também sob a perspectiva do direito à cultura, a respeito das relações entre o espaço urbano e a produção cultural independente.

O acesso à cultura, muitas vezes possibilitado pelo direito à cidade, nos leva a refletir sobre a sobrevivência, a organização e a manifestação, e sobre os locais urbanos ocupados pelos grupos culturais independentes à margem da “centralidade” cultural e urbana. Assim, elencamos três coletivos culturais emblemáticos, de São Paulo, para este contexto em discussão.

Batekoo

Movimento que surge em Salvador e ganha força no cenário cultural paulistano, produz eventos em torno da música e da dança, reivindica a liberdade corporal e sexual, e tem como mote o empoderamento e a representatividade da cultura periférica e negra nos espaços urbanos.

Slam Resistência

Slam é uma competição de spoken word, poesias faladas. O poeta apresenta seus textos em até 3 minutos sem utilização de objetos cênicos e acompanhamento musical. O Slam Resistência, que acontece toda primeira segunda-feira do mês na escadaria da Praça Roosevelt, é consonante aos movimentos sociais e ao enfrentamento político em defesas culturais, sociais e sócio-ambientais.

Batalha do Santa Cruz

Um dos mais importantes berços do rap de improviso em São Paulo, o Batalha do Santa Cruz acontece desde 2006, todo sábado a partir das 20h na saída do metrô Santa Cruz. O debate de ideias e rimas é lembrado por grandes nomes do rap contemporâneo (Emicida, Rashid, entre outros) como um espaço essencial na história do hip hop no Brasil.

Etapa 02

Dando continuidade à ideia inicial de investigação dos coletivos elencados e suas ocupações do espaço urbano, organizamos o processo de trabalho em 3 partes, complementares entre si. Foram elas: percepção, levantamento e produção.

Na primeira, visitamos a maior quantidade possível dos eventos citados e nos atentamos à sensorialidade, à espacialidade e às primeiras impressões como participantes dos encontros. Assim, pudemos direcionar mais precisamente nossas intenções em relação aos produtos que gostaríamos de alcançar, considerando as particularidades de cada coletivo.

Na segunda parte, de levantamento, registramos imagens e sons das visitas aos grupos culturais e coletamos novas informações sobre eles. Com todo material coletado, decidimos quais seriam nossos produtos — maquetes, fotomontagens e vídeo — e o meio pelo qual eles seriam transmitidos, de maneira pública — Instagram, principalmente.

Por fim, na parte de produção, tivemos como intuito alcançar uma melhor compreensão da espacialidade, que foi possibilitada pelas maquetes e a análise da circulação de pedestres sobre elas; dos fluxos, registrados com as foto montagens, vídeos e maquetes; e a ocupação, estudada por meio das fotos e vídeos.

Etapa 03

Com intuito de retomar às motivações iniciais do trabalho, na etapa de aprofundamento buscamos analisar a relação dos três grupos culturais com o contexto urbano. Para tanto, utilizamos duas abordagens diferentes: com a Batekoo, coletivo itinerante, focamos na ocupação da festa em relação à cidade de São Paulo; para a Batalha do Santa Cruz e o Slam Resistência, de localização fixa, investigamos as relações dos locais dos eventos com seus entornos.

A partir do levantamento por meio da divulgação dos coletivos nas redes sociais, produzimos um mapa cronológico dos eventos da Batekoo realizados ao longo de 2018, relacionando-os com o calendário de São Paulo, com fotos ilustrativas.

Além disso, demos sequência às nossas visitas e aos registros audiovisuais das nossas impressões e da ocupação da Praça Roosevelt e do Metrô Santa Cruz, com ou sem eventos.

Etapa 04

Para sintetizar o processo de trabalho e utilizá-lo como base para um partido de intervenção, as investigações espaciais convergiram para alguns problemas identificados em nossas visitas aos locais de eventos. Partimos de duas novas maquetes em escalas mais aproximadas para entendermos as micro-relações que o espaço urbano continha, com ou sem a ocupação dos coletivos.

Ao estudarmos a trajetória da Batekoo, concluímos que o grupo já estava consolidado em São Paulo e se expandira internacionalmente, ou seja, de certa forma, deixou seu caráter paralelo, apesar de ainda buscar representatividade e resistência para a cultura negra e LGBTQ+. A partir de diversas abordagens analíticas, por fim, propusemos pequenas intervenções espaciais que poderiam potencializar a relação do Slam Resistência e da Batalha do Santa Cruz com o espaço que ocupam, bem como a divulgação dos eventos dos coletivos.

Propusemos, então, uma concha acústica móvel que potencialize a projeção da voz dos competidores do Slam, e, para a divulgação dos eventos, a colagem de lambe-lambes nos locais que ocorrem, que permaneçam também em horários diferentes da ocupação. Na impressão estarão fotos dos grupos nos próprios espaços com QR code que redirecione para o material que produzimos sobre eles.