G02_EDIFÍCIO JAPURÁ

G02: Alexandre Makhoul, Isabela Moraes, Marina Schiesari, Mateus Loschi e Stella Bloise.

Orientador: Silvio Oksman

Este é um trabalho final de graduação (TFG) iniciado no primeiro semestre de 2018. Para saber mais sobre as etapas anteriores, clique aqui.

Realidade ou ficção?

Diante de um cenário nacional em que o patrimônio histórico é altamente inflamável, a situação do Edifício Armando Arruda Pereira- o “Japurá”- se mostra um tanto desesperadora. O edifício, patrimônio histórico tombado pelo CONPRESP desde 2002, apresenta problemas em suas instalações hidráulicas, descaracterização de áreas comuns, má conservação, dificuldades administrativas e uma disputa de posse- já que o bloco frontal supostamente pertence ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Há mais de 30 anos, esta parte do edifício se encontra sub utilizada, servindo apenas como depósito de arquivos.

Isso só explicita a urgência em pensar no futuro do Japurá. O que pode dar errado? O que já está dando errado?

Pensando nisso, e a partir da leitura de documentos como a Carta de Burra e A guide to risk management of cultural heritage (” Um guia para gestão de riscos do patrimônio histórico”), o grupo elaborou um estudo sobre todas as forças que atuam sobre o conjunto do Ed. Japurá e os riscos e oportunidades que derivam delas. E, dando continuidade ao processo de compartilhamento de informações com os moradores, especulamos o melhor modo de “traduzir” essas informações técnicas de maneira acessível e interessante.

Serão criadas duas novas zines, totalizando quatro desde o início do trabalho. A terceira, intitulada “Realidade ou ficção?” trará riscos reais traduzidos em cenários distópicos, apresentados em forma de quadrinhos, visando aumentar a consciência sobre o cuidado com o bem patrimonial . Já a quarta, chamada ” E se…” trará especulações sobre um futuro positivo, projetos a nível ilustrativo, exemplos de como os próprios moradores podem contribuir para um futuro bom. A experiência com zines tem sido, até agora, extremamente bem aceita pelos moradores e acreditamos que essa nova sequência possa aumentar ainda mais o engajamento dos moradores.

ETAPA 3 – E Agora?

Conforme mencionado no início do semestre o G02 optou continuar a comunicação com os moradores do edifício Japurá através das zines. Ao invés de apresentar dados históricos e relatos como nas zines “60 anos de História” e “De dentro para Dentro”, a zine três estabeleceu a linguagem de quadrinhos. Intitulada “E agora?” ela apresenta com certo humor as dificuldades de se manter um patrimônio habitado no centro de São Paulo. Através de cenários exagerados e enredos lúdicos busca a conscientização coletiva voltada  à conservação de um edifício habitacional tombado – especificamente o Ed. Dr. Armando Arruda Pereira.

O estudo preliminar para o conteúdo dos quadrinhos se deu por meio da leitura do “Guide to Risk Managment of Cultural Heritage” de José Luiz Pedersoli Jr., Catherine Antomarchi e Stefan Michalski. Este, do micro ao macro, possibilitou um olhar amplo e hipotético para qualquer fragilidade do prédio. Assim sendo, a partir do material coletado nas entrevistas, as idas às reuniões do condomínio e a permanência dos integrantes no prédio de três a sete dias da semana, foi possível diagnosticar tais circunstâncias:

  1. novas instalações (ar condicionado, gás)
  2. obras irregulares (nos apartamentos, fachada, cobertura, garagem)
  3. infraestrutura (encanamento, elevadores)
  4. INSS (bloco frontal ser atualmente subutilizado)
  5. gestão ( como se conciliar as necessidades emergenciais e as de longo prazo, enquanto lida com um público muito diversificado)
  6. desassociação (a falta de informação por parte dos moradores quanto o edifício)
  7. irregularidade de documentos – também fruto da desassociação porém mais ligada a parte burocrática

Para cada situação foi desenvolvida uma ou mais histórias.

Por exemplo, no contexto de novas instalações se criou “Chuva de Verão”; na qual se narra o encontro de duas moradoras idosas que têm o costume de conversar no térreo do prédio, porém, pela grande quantidade de ar-condicionados na fachada, o espaço comum de lazer se torna uma área de intenso escoamento de líquidos liberados pelo ar condicionado. A ironia que a história apresenta está na analogia da queda d’água suja aos pingos da chuva ao mesmo tempo em que abre o questionamento: o conforto individual é mais valioso do que o conforto coletivo? Ou até melhor, o que essa tensão demonstra nas habitações de teor modernista? No qual os programas térreos e espaços de lazer têm extrema importância…

A história “ Ô Roberto” trata do caso do bloco frontal, área de acesso principal que, por razões de desassociação de informações, é desconsiderado por alguns moradores como pertencente ao conjunto. Por questões legais, deixou de funcionar como habitação quando se tornou propriedade do INSS. A instituição, para manter o espaço intacto,  o transformou em depósito de seu “arquivo morto”. Frente a recente quantidade de casos incêndios em edifícios históricos e culturais brasileiros, fruto do descaso para com o patrimônio, abordar este assunto se tornou mais do que necessário.

Um dos outros grandes problemas é a falta de vagas no estacionamento. Boa parte da área da garagem foi projetada para ser um jardim de Burle Marx. Contudo, com o crescimento populacional e transformação do centro em um grande conector viário, a prioridade foi abrigar os veículos dos moradores. Hoje, o problema continua e seus moradores buscam mais e mais formas de solucioná-lo. Neste quadrinho, aproveitamos a localização geográfica- há um córrego tamponado nas proximidades do terreno- e brincamos com a possibilidade de uma possível  garagem subterrânea mal feita. Lembrando os diversos rios tamponados no centro.

 

ETAPA 4 – Um Patrimônio Habitado

O edifício Dr. Armando Arruda Pereira (“Japurá”) do arquiteto Eduardo Kneese de Mello é um edifício tombado considerado a primeira aplicação no Brasil dos conceitos corbusianos para a habitação coletiva no pós-guerra. Construído no terreno ocupado pelos maiores cortiços do Bixiga (Navio Parado), desde sua inauguração em 1957 o edifício passou por muitos momentos. Inicialmente abrigou famílias de industriários, beneficiados pelo sistema de IAPIs, mas passou por períodos de extrema decadência e degradação algumas décadas depois. Com o recente movimento das elites de reocupar o centro, o condomínio tem se tornado cada vez mais procurado por seus 288 apartamentos duplex de 70m2, garagem, portaria 24h e localização.

Patrimônio histórico tombado pelo CONPRESP desde 2002, apresenta problemas em suas instalações hidráulicas, descaracterização de áreas comuns, má conservação, dificuldades administrativas, irregularidade fundiária e uma disputa de posse já que o bloco frontal supostamente pertence ao INSS. Há mais de 30 anos, esta parte do edifício se encontra sub-utilizada, servindo apenas como depósito de arquivos. Diante de um cenário nacional em que o patrimônio histórico é altamente inflamável, a situação do “Japurá” se mostra um tanto desesperadora.

Tendo em vista as ameaças sob as quais o edifício se encontra atualmente- mais os processos de valorização imobiliária e mudança de público-alvo dos empreendimentos no centro – a mudança se mostra iminente. É muito provável que o Japurá deixe de ser o que é hoje e tome uma forma ainda desconhecida. Para tanto, um retrato do que ele é hoje, de como e por quem é ocupado, pode ser um exemplo dos processos e dinâmicas que atuam sobre o patrimônio arquitetônico habitado no centro de São Paulo. E, através da reconexão do morador com a história do local onde habita, esse estudo fortalece o valor relacional do patrimônio – que deve, antes de tudo, ser relevante à sociedade na qual está inserido.

Através das investigações e interações, conclui se o trabalho deste TCEV com um conhecimento vasto do passado, presente e futuro do Japurá. Materializado em um levantamento iconográfico e atualização do mesmo – com maquete 1:200 detalhada do edifício inteiro, a maquete 1:50 volumétrica do encaixe das unidades, o caderno de plantas do edificio e um vídeo investigativo do cotidiano dentro do prédio – e na produção de ferramentas para o reconhecimento do valor do edifício por parte de moradores e simpatizantes – com um perfil no instagram e 4 zines.